segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O CAOS INFORMATIVO DAS FORÇAS ARMADAS

(Nuno Botelho)





A minha intuição estava afinal certa. A displicência com que o ministro Azeredo Lopes tratou inicialmente e continuou a tratar o caso do roubo do material de guerra, com o clímax dessa displicência atingido na sua última entrevista, anunciava grandes fragilidades no interior das relações entre o governo e as estruturas das forças armadas. Se reproduzirmos a sequência de acontecimentos é praticamente impossível descobrir uma liderança ou comando, militar ou político, que tenha mostrado um racional minimamente coerente no modo como transmitiu as suas decisões e disso deu conta à comunicação social. A ideia que se deixou a opinião pública formar é de uma grande desorganização e de modelo de funcionamento em estilo amanuense. Podemos ensaiar a explicação de que tais fragilidades e desconchavos são o resultado de uma prolongada desatenção dos poderes políticos à instituição militar, prolongando o desconchavo por penúria de meios praticamente esgotados com os custos das missões internacionais. Essa interpretação é bondosa para o corpo das forças armadas. Não direi que os cortes orçamentais não tenham influenciado esta fragilização que se pressente nos mínimos pormenores. Mas não serei ingénuo a ponto de ignorar que as forças armadas poderiam fazer mais do ponto de vista da clarificação das suas relações com o poder político, tanto mais que dizem os especialistas temos uma estrutura de Forças Armadas relativamente invertida, com comandos que baste e operacionais em falta.

Não podemos ignorar que, do ponto de vista da formação da opinião pública em Portugal, as Forças Armadas não são propriamente populares. Assim sendo, a recuperação da sua imagem e prestígio junto da sociedade portuguesa não pode apenas ser da responsabilidade dos partidos políticos e dos governos. As próprias Forças Armadas têm a sua quota-parte de demonstração de que são nos tempos modernos e de incerteza que vivemos um corpo essencial de proteção da democracia, juntamente com as forças de segurança. Ora, nos últimos tempos as próprias Forças Armadas, com exceção das missões internacionais, têm-se esforçado em complicar a vida aos Portugueses que procuram ver nas mesmas uma necessidade para os tempos de hoje.

O Expresso, utilizando critérios jornalísticos que creio serem inatacáveis, resolveu entrar na contenda divulgando a existência de um relatório proveniente de serviços de informação militares, onde a ideia central é de um caos informativo generalizado, a ponto do putativo relatório estar organizado em cenários de verosimilhança do que terá efetivamente acontecido em Tancos.

A sensação que se pressente com caos tão generalizado é de grande incomodidade cívica, com a ideia de que anda muita gente a brincar com coisas sérias, demasiado sérias. A reação do PS é de grande precipitação, remetendo os acontecimentos para uma espécie de manobra política do PSD. É de facto uma evidência de que aquilo que começa torto dificilmente se endireita e a sequência de acontecimentos assim o mostra. E para complicar a sua vida, o ministro apoiante e membro da equipa que levou Rui Moreira ao poder na Câmara Municipal do Porto decidiu agora projetar o seu apoio em Manuel Pizarro, abandonando Moreira à sua sorte. No momento atual de fragilidade e de demonstração de displicência que a sua atividade como ministro apresenta, haveria necessidade de Azeredo Lopes vincar o seu apoio a Manuel Pizarro? Ou, por outras palavras, imaginará o displicente ministro que a sua decisão será crucial para assegurar a Pizarro a vitória nas eleições?

Ai estes universitários, ou académicos!

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