(Nuno Botelho)
A minha intuição estava
afinal certa. A displicência com que o ministro Azeredo Lopes tratou
inicialmente e continuou a tratar o caso do roubo do material de guerra, com o
clímax dessa displicência atingido na sua última entrevista, anunciava grandes
fragilidades no interior das relações entre o governo e as estruturas das
forças armadas. Se reproduzirmos a sequência de acontecimentos é praticamente impossível
descobrir uma liderança ou comando, militar ou político, que tenha mostrado um
racional minimamente coerente no modo como transmitiu as suas decisões e disso
deu conta à comunicação social. A ideia que se deixou a opinião pública formar é
de uma grande desorganização e de modelo de funcionamento em estilo amanuense. Podemos
ensaiar a explicação de que tais fragilidades e desconchavos são o resultado de
uma prolongada desatenção dos poderes políticos à instituição militar, prolongando
o desconchavo por penúria de meios praticamente esgotados com os custos das
missões internacionais. Essa interpretação é bondosa para o corpo das forças
armadas. Não direi que os cortes orçamentais não tenham influenciado esta fragilização
que se pressente nos mínimos pormenores. Mas não serei ingénuo a ponto de ignorar
que as forças armadas poderiam fazer mais do ponto de vista da clarificação das
suas relações com o poder político, tanto mais que dizem os especialistas temos
uma estrutura de Forças Armadas relativamente invertida, com comandos que baste
e operacionais em falta.
Não podemos ignorar que,
do ponto de vista da formação da opinião pública em Portugal, as Forças Armadas
não são propriamente populares. Assim sendo, a recuperação da sua imagem e prestígio
junto da sociedade portuguesa não pode apenas ser da responsabilidade dos
partidos políticos e dos governos. As próprias Forças Armadas têm a sua quota-parte
de demonstração de que são nos tempos modernos e de incerteza que vivemos um corpo
essencial de proteção da democracia, juntamente com as forças de segurança. Ora,
nos últimos tempos as próprias Forças Armadas, com exceção das missões
internacionais, têm-se esforçado em complicar a vida aos Portugueses que procuram
ver nas mesmas uma necessidade para os tempos de hoje.
O Expresso, utilizando
critérios jornalísticos que creio serem inatacáveis, resolveu entrar na
contenda divulgando a existência de um relatório proveniente de serviços de
informação militares, onde a ideia central é de um caos informativo generalizado,
a ponto do putativo relatório estar organizado em cenários de verosimilhança do
que terá efetivamente acontecido em Tancos.
A sensação que se pressente
com caos tão generalizado é de grande incomodidade cívica, com a ideia de que
anda muita gente a brincar com coisas sérias, demasiado sérias. A reação do PS é
de grande precipitação, remetendo os acontecimentos para uma espécie de manobra
política do PSD. É de facto uma evidência de que aquilo que começa torto
dificilmente se endireita e a sequência de acontecimentos assim o mostra. E
para complicar a sua vida, o ministro apoiante e membro da equipa que levou Rui
Moreira ao poder na Câmara Municipal do Porto decidiu agora projetar o seu
apoio em Manuel Pizarro, abandonando Moreira à sua sorte. No momento atual de
fragilidade e de demonstração de displicência que a sua atividade como ministro
apresenta, haveria necessidade de Azeredo Lopes vincar o seu apoio a Manuel
Pizarro? Ou, por outras palavras, imaginará o displicente ministro que a sua
decisão será crucial para assegurar a Pizarro a vitória nas eleições?
Ai estes universitários,
ou académicos!
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