(a partir de http://ec.europa.eu/eurostat)
Passam-nos às vezes pela mão informações que, não sendo especialmente relevantes, apresentam, contudo, algum potencial de interesse. Tal me parece ser o caso da que aqui agora trago, centrada na questão da cidadania ativa na Europa e nos termos de dados recentemente publicitados pelo Eurostat.
Seguem os apontamentos mais chamativos que retive (os dados brutos mais representativos estão reproduzidos no quadro abaixo):
· apenas 11,9% da população adulta da União Europeia se declarava ativamente cidadã em 2015 (por ter estado presente em reuniões, assinado petições ou participado em qualquer outro tipo de atividade relacionado com grupos, associações ou partidos políticos);
· a maior taxa de cidadania ativa situa-se em França (24,6%), país que é imediatamente seguido pela Suécia e pela Holanda, ficando Chipre (2,1%), Eslováquia e Roménia na cauda da tabela;
· confirma-se a existência de uma previsível correlação positiva entre os níveis educacionais e a cidadania (esta regista uma média de 20,8% para a população com grau acima do secundário contra apenas 11,4% para a população de escolaridade média e 5,6% para a população de mais baixa escolaridade);
· o mesmo tipo de situação se verifica quanto aos níveis de rendimento (taxa de cidadania ativa de 17,2% para o quintil de maiores rendimentos contra apenas 8,9% para o quintil mais desfavorecido);
· o desfasamento de género não é muito significativo ao indiciar uma taxa de cidadania de 12,2% nos homens e de 11,7% nas mulheres;
· no tocante a Portugal, situamo-nos ligeiramente abaixo da média europeia em termos genéricos e conhecemos a mesma ordem de realidade no plano dos efeitos da educação e do rendimento, mas com diferenciais agravados (os mais escolarizados e os mais ricos são mais participativos do que a média europeia e a inversa é verdadeira para os menos escolarizados e menos ricos);
· ainda no tocante a Portugal, é de registar que ocupamos um honroso 12º lugar numa amostra de 33 países considerados (os 28 da UE, em que estamos em 10º, e mais outros 5 do Velho Continente, aqui sendo digna de nota a posição liderante da Suíça).
Termino com um desabafo de inquietação que reputo de claramente pertinente: se por cá o nível de desinteresse em relação à política é o que vamos sentindo nas nossas diversas incursões do quotidiano (e, de facto, são apenas menos de 10% os cidadãos com algum tipo de atenção pública objetivável), o que podemos adivinhar que seja a situação de indiferença, e até de rejeição, que se observará na maioria dos países em análise que apresentam taxas inferiores às nossas, seja na metade ou menos (Bélgica, Hungria, República Checa, Bulgária, Roménia, Eslováquia e Chipre) ou até um pouco superiores à metade (Malta, Estónia, Irlanda, Grécia, Espanha, Polónia, Dinamarca, Eslovénia, Itália, Lituânia, Letónia, Croácia)? Tempos houve...
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