O concerto de Krystian
Zimerman num dos primeiros anos de euforia de usufruição da Casa da Música, mais
propriamente em março de 2006, talvez tenha sido um dos meus momentos mais marcantes
como espectador sensorial de concertos, numa busca de que os sentidos compensem
a iliteracia musical que bem amargo. O pianista polaco sempre constituiu uma
peça rara do “circuito” dos grandes performers. Ligado quase umbilicalmente ao
seu piano, construído em cooperação estreita com a Steinway, Zymerman é um preciosista
relativamente ao instrumento de trabalho, fazendo-se acompanhar em praticamente
todas as vezes do seu próprio piano.
Lembro-me que, na altura,
alguma imprensa que registou a vinda de Zimerman à Casa da Música se referiu
abundantemente aos traços míticos do pianista e isso fez-se sentir na sala,
preparada para qualquer coisa de diferente. O Público registou antecipadamente a vinda de Zimerman nesses termos (link aqui). Gostaria de ouvir a gravação dessa
noite na Suggia, que envolveu Mozart, Ravel e Chopin. Incomodado por algum comportamento
da audiência que terá interpretado como uma possível gravação ou talvez traído
por uma iluminação menos amigável, recordo-me que interrompeu a prestação,
vociferou alguma coisa que não se percebeu e retomou Chopin como nunca tinha
ouvido.
A edição recentíssima na
Deutsche Gramophone das sonatas D 959 e D 960 de Schubert é uma preciosidade e
imagino o ambiente do Kashiwasaki City Performing Arts Centre no Japão, que tem
a particularidade de ter sido reconstruído após o terrível terramoto de 2007. Como
não podia deixar de ser, o auditório em que a gravação foi concretizada tem segundo
Zimerman características acústicas ímpares, ou seja, da meticulosidade do piano
com um teclado concebido pelo próprio Zimerman à acústica do auditório temos o
que seria concebível.
Por mim, basta-me usufruir
da tecnologia numa tarde distendida de sexta feira. Sobretudo a D 960 torna tudo o resto indiferente.
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