quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A FRATURA E O BLOQUEIO




(Imaginam por certo que é da Catalunha que falo. O dia 6 de setembro de 2017 ficará na história como a data da rebelião confirmada, dia em que na sequência de uma jogada largamente oportunista, a maioria independentista no parlamento catalão fintou a ordem do dia e conseguiu aprovar a lei excecional que enquadra o referendo de 1 de outubro; porém, o bloqueio segue dentro de momentos…)

O dia de ontem no parlamento catalão foi trágico-cómico. As forças políticas pró-independência, Junts pel Sí e CUP, com a clara cumplicidade da Presidente do Parlamento Carmen Forcadell, lograram através de um expediente de alteração da ordem do dia em cima dos acontecimentos aprovar a lei excecional que enquadra o referendo anunciado para 1 de outubro. A oposição Ciudadanos, Partido Socialista Catalão e Partido Popular adiaram o mais possível o desfecho, procurando introduzir sucessivas perturbações de tramitação, mas perante o inevitável a votação consumou-se apenas com as forças independentistas presentes no hemiciclo.

Espera-se para hoje a decisão do Tribunal Constitucional de suspender a lei, considerada obviamente ilegal face ao Estatuto da Autonomia e à Constituição espanhola em vigor e a partir daí o bloqueio segue dentro de momentos. Oportunisticamente, a lei ontem aprovada prevê apenas a maioria simples, sem qualquer critério de exigência de participação mínima. E aqui abre-se uma grande interrogação para mim: com a decisão do Tribunal Constitucional que se espera para hoje, o que fará o governo regional? Irá mesmo assim tentar concretizar o referendo e jogar na radicalização que uma intervenção não apenas política do governo de Madrid, musculada entenda-se, tenderia a provocar? Ou a decisão de ontem no parlamento foi apenas uma encenação de radicalização para ganhar pontos a prazo e conseguir fixar o eleitorado independentista?


O ambiente de ódio e de confronto avançou tanto com a complacência do PP que não ouso fazer qualquer prognóstico. Personagens como Carles Puigdemont, presidente da Generalitat ou Oriel Junqueras vice-presidente e líder da Esquerda Republicana são imprevisíveis.

Vai longe o tempo de Pascual Maragall ou Miguel Roca em que o catalanismo se aproximava de um modelo federal, que foi pouco trabalhado em Madrid (link para um excelente artigo do historiador Joaquim Coll no El País).

Não imaginando as consequências de uma intervenção musculada do governo de Madrid, penso que aos não independentistas resta em próximas eleições regionais e locais ganhar peso político, mas não é seguro que isso aconteça.


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