(Imaginam por
certo que é da Catalunha que falo. O dia 6 de setembro de 2017 ficará na história
como a data da rebelião confirmada, dia em que na sequência de uma jogada largamente
oportunista, a maioria independentista no parlamento catalão fintou a ordem do
dia e conseguiu aprovar a lei excecional que enquadra o referendo de 1 de outubro;
porém, o bloqueio segue
dentro de momentos…)
O dia de ontem no parlamento catalão foi trágico-cómico.
As forças políticas pró-independência, Junts pel Sí e CUP, com a clara cumplicidade
da Presidente do Parlamento Carmen Forcadell, lograram através de um expediente
de alteração da ordem do dia em cima dos acontecimentos aprovar a lei excecional
que enquadra o referendo anunciado para 1 de outubro. A oposição Ciudadanos,
Partido Socialista Catalão e Partido Popular adiaram o mais possível o desfecho,
procurando introduzir sucessivas perturbações de tramitação, mas perante o
inevitável a votação consumou-se apenas com as forças independentistas
presentes no hemiciclo.
Espera-se para hoje a decisão do Tribunal Constitucional
de suspender a lei, considerada obviamente ilegal face ao Estatuto da Autonomia
e à Constituição espanhola em vigor e a partir daí o bloqueio segue dentro de
momentos. Oportunisticamente, a lei ontem aprovada prevê apenas a maioria
simples, sem qualquer critério de exigência de participação mínima. E aqui
abre-se uma grande interrogação para mim: com a decisão do Tribunal
Constitucional que se espera para hoje, o que fará o governo regional? Irá
mesmo assim tentar concretizar o referendo e jogar na radicalização que uma
intervenção não apenas política do governo de Madrid, musculada entenda-se, tenderia
a provocar? Ou a decisão de ontem no parlamento foi apenas uma encenação de
radicalização para ganhar pontos a prazo e conseguir fixar o eleitorado independentista?
O ambiente de ódio e de confronto avançou
tanto com a complacência do PP que não ouso fazer qualquer prognóstico. Personagens
como Carles Puigdemont, presidente da Generalitat ou Oriel Junqueras vice-presidente
e líder da Esquerda Republicana são imprevisíveis.
Vai longe o tempo de Pascual Maragall ou
Miguel Roca em que o catalanismo se aproximava de um modelo federal, que foi pouco
trabalhado em Madrid (link para um excelente artigo do historiador Joaquim Coll no El País).
Não imaginando as consequências de uma intervenção
musculada do governo de Madrid, penso que aos não independentistas resta em próximas
eleições regionais e locais ganhar peso político, mas não é seguro que isso
aconteça.
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