quarta-feira, 13 de setembro de 2017

BAÚ ABERTO POR CONTADOR

(cartoon de Agustin Sciammarella, http://elpais.com)

Tempos houve em que o fim das aulas e o defeso futebolístico levavam a que o ciclismo ocupasse muito do meu interesse desportivo. Tudo começou com as Voltas a Portugal a encherem os Verões infantis e juvenis do final dos anos 50 e início dos anos 60, entre os relatos radiofónicos das etapas, as réplicas em corridas em pistas de areia molhada de sameiras recheadas (com nomes dos atletas e respetivas cores clubistas – não apenas os três rivais clássicos, FC Porto, Benfica e Sporting, mas também agremiações dedicadas como o Sangalhos, o Ginásio de Tavira, o Águias de Alpiarça ou a Ovarense) e os resumos televisivos da etapa no final de cada dia – cito de cor alguns desses notáveis de então, desde que deles me recordo até que me fui gradualmente desinteressando da matéria: Alves Barbosa, Carlos Carvalho, Sousa Cardoso, Mário Silva, José Pacheco, João Roque, Joaquim Leão, Peixoto Alves, Francisco Valada, Antonino Baptista, Jorge Corvo, Sérgio Páscoa, Américo Silva, Joaquim Andrade, Joaquim Agostinho, Fernando Mendes e, já em phasing out, Firmino Bernardino, Manuel Zeferino, Marco Chagas e Venceslau Fernandes. Esses eram também tempos em que três grandes voltas internacionais – o Giro de Itália, a Vuelta de Espanha e o Tour de França – completavam muita daquela nossa animação diária – à época, pontuavam alguns dos maiores de sempre (como Eddy Merckx, Jacques Anquetil ou Bernard Hinault) e alguns dos seus maiores desafiadores (como Raymond Poulidor, Luis Ocaña ou Felice Gimondi).


Adiante que já vai longo este meu desengonçado esticanço de saudosismo. Porque aquilo de que vem tudo isto a propósito é do recentíssimo anúncio de abandono da competição por parte de um dos grandes ciclistas dos nossos dias, Alberto Contador. Com quase 35 anos, o espanhol ainda completou em excelentes condições a Vuelta (venceu a última etapa e foi quinto na classificação final), debaixo de um generalizado apoio do público espalhado ao longo da estrada. E quis deixar uma palavra (“dei o máximo de maneira honesta e profissional”) quanto à marca essencial da sua brilhante carreira, conhecido como é que a mesma teve os seus incidentes mas sendo também dado por adquirido que ele nunca ultrapassou limites como os que estrondosamente desconstruíram em 2012 a mítica auréola de Lance Armstrong. Deem-se graças, já que o sistema não pode dispensar uma recorrente identificação de heróis...

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