domingo, 24 de setembro de 2017

A SOCIAL-DEMOCRACIA SEGUE DENTRO DE LARGOS MOMENTOS





Merkel continua a ser o arquétipo do alemão médio, por isso continuará a governar a Alemanha, embora com crescente dificuldade de representar os desvios relativamente à média. E conjuntamente com essa conclusão que praticamente todos antecipavam as eleições de hoje confirmaram o pior que poderia ser esperado. A AfD Alternativa para a Alemanha ultrapassou os 13%, estará no Parlamento com capacidade de formulação de agenda própria e veremos o que é que esta presença vai significar do ponto de vista das prioridades da nova governação de Merkel. A afirmação desta noite de que tudo será feito para trazer de volta os eleitores que viraram hoje AfD presta-se a múltiplas interpretações, mas uma antecipação possível será que a governação da nova coligação de CDU, Verdes e Liberais vai adireitar a Alemanha e refugiados que se cuidem.

Mas talvez o resultado mais penoso seja o do SPD abaixo dos 21%, afundando Martin Schultz e com ele a esperança de a partir da Alemanha a social-democracia europeia poder desenvolver uma trajetória de recuperação de eleitorado. O resultado vem ao encontro do que penso há já algum tempo, que a queda da social-democracia não se resolve apenas com rostos e personalidades. É antes necessário pensá-la para o mundo de hoje e nesse mundo há coisas que não podemos fazer passar para uma espécie de realidade inculta, como por exemplo a massa de refugiados que corajosamente em nome da Europa mas às custas essencialmente da Alemanha Merkel fez entrar no país. O SPD agora lançado para a oposição terá tempo para compreender o novo contexto e as margens de manobra que restam aos partidos socialistas e da social-democracia. E, sejamos claros, curtos e grossos, por mais interessante que seja a nossa experiência política à esquerda, ela não tem expressão suficiente para influenciar os rumos da social-democracia europeia. A perceção e vivência que alimentamos dos problemas que emergem no centro da Europa são distantes e algo difusas. Talvez os jovens portugueses que aí trabalham tenham uma perceção mais clara, mas a sua influência no que se pensa em Portugal desses problemas é reduzida.

Por isso, por muito que me custe e incomode, a social-democracia seguirá só dentro de largos momentos.


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