Merkel continua a ser o
arquétipo do alemão médio, por isso continuará a governar a Alemanha, embora com
crescente dificuldade de representar os desvios relativamente à média. E conjuntamente
com essa conclusão que praticamente todos antecipavam as eleições de hoje
confirmaram o pior que poderia ser esperado. A AfD Alternativa para a Alemanha
ultrapassou os 13%, estará no Parlamento com capacidade de formulação de agenda
própria e veremos o que é que esta presença vai significar do ponto de vista
das prioridades da nova governação de Merkel. A afirmação desta noite de que
tudo será feito para trazer de volta os eleitores que viraram hoje AfD
presta-se a múltiplas interpretações, mas uma antecipação possível será que a
governação da nova coligação de CDU, Verdes e Liberais vai adireitar a Alemanha
e refugiados que se cuidem.
Mas talvez o resultado
mais penoso seja o do SPD abaixo dos 21%, afundando Martin Schultz e com ele a
esperança de a partir da Alemanha a social-democracia europeia poder desenvolver
uma trajetória de recuperação de eleitorado. O resultado vem ao encontro do que
penso há já algum tempo, que a queda da social-democracia não se resolve apenas
com rostos e personalidades. É antes necessário pensá-la para o mundo de hoje e
nesse mundo há coisas que não podemos fazer passar para uma espécie de
realidade inculta, como por exemplo a massa de refugiados que corajosamente em
nome da Europa mas às custas essencialmente da Alemanha Merkel fez entrar no país.
O SPD agora lançado para a oposição terá tempo para compreender o novo contexto
e as margens de manobra que restam aos partidos socialistas e da social-democracia.
E, sejamos claros, curtos e grossos, por mais interessante que seja a nossa
experiência política à esquerda, ela não tem expressão suficiente para influenciar
os rumos da social-democracia europeia. A perceção e vivência que alimentamos dos
problemas que emergem no centro da Europa são distantes e algo difusas. Talvez os
jovens portugueses que aí trabalham tenham uma perceção mais clara, mas a sua
influência no que se pensa em Portugal desses problemas é reduzida.
Por isso, por muito que
me custe e incomode, a social-democracia seguirá só dentro de largos momentos.
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