segunda-feira, 18 de setembro de 2017

MAS QUE AUTÁRQUICAS TÃO DESINTERESSANTES!






Sim, é algo de paradoxal. As eleições autárquicas são seguramente o momento de mais intensa participação democrática e movimentam massas significativas de cidadãos, não vou agora classificar os motivos que conduzem a essa mais intensa participação. Mas não podemos ignorar que uma grande parte dessa intensa participação é concretizada através dos aparelhos partidários locais. Desde que assisti já há muitos anos ao desespero de algumas pessoas e interesses locais que se gerou após a derrota de Fernando Gomes no Porto para um então inesperado Rui Rio fiquei convencido de muita coisa que não é propriamente indicador de uma democracia avançada. A presença ainda relevante das forças partidárias nas eleições locais, com uma impossibilidade real de estabelecimento de grandes diferenças entre projetos e programas que se submetem ao sufrágio local, torna o ambiente repetitivo, sensaborão e muito dependente de traços locais e de candidatos. Se já há alguma dificuldade de projetar diferenças a nível nacional em alguns domínios de intervenção pública, imaginem tais dificuldades no plano local. Para além disso, o desenvolvimento local em termos de condições de vida, básicas e não só, avançou e de que maneira, pelo que nesse contexto a probabilidade de surgirem propostas algo mirabolantes e estratosféricas é muito elevada. Por exemplo, já há muitos anos, o então candidato PSD António Taveira à Câmara do Porto falava dos Jogos Olímpicos na Cidade. Pelo menos, por agora Álvaro Almeida é bem mais timorato.

É claro que há o movimento de independentes com candidaturas próprias e autónomas. É um facto. Mas a sua emergência simultânea com a profusão de candidaturas que de independentes só têm o nome e que são o resultado de lutas de velhas comadres, de promessas de favores pessoais não cumpridas, de regressos à vida política provocados pela falta de adrenalina de vidas que perderam o palco do dia-a-dia, de arranjinhos locais e de outras degenerescências da vida local, retira-lhes força e expressão de mudança. Para além disso, não há pensamento político novo que enquadre esses movimentos e é pena por que não lhes falta intensidade participativa. Há dias, em assomo passadista, não resisti a reler alguns textos produzidos no âmbito da Resultante, associação cívica- tertúlia que mantive durante alguns anos com amigos próximos, alguns já desaparecidos, Nuno Guedes de Oliveira, Nuno Grande, Rui Oliveira, Manuel Miranda, Abílio Cardoso. E para meu espanto verifiquei que alguns daqueles textos ainda marcariam a diferença hoje como suporte aos projetos políticos de algumas forças independentes. Mau sinal. Sinal de que os projetos partidários têm apagado pensamento independente.

Não esqueçamos ainda que muitas das maleitas que desafiam o poder local decorrem de temas (envelhecimento, declínio demográfico, fuga para as oportunidades de emprego) que não têm resposta suficiente a nível local.

Por estas razões, as autárquicas de 1 de outubro têm-se mostrado desinteressantes. Alguns pontos quentes que podem ser antecipados não são mais do que isso, mas não trazem consigo qualquer ideia nova em termos de desenvolvimento local. Alguns exemplos:

  • Vai o PSD ser castigado a nível das grandes cidades?

  • Vai o candidato Domingos Pereira em Barcelos, independente à força por colisão interna no PS, ameaçar o PS?

  • Que dimensões vão ter as inenarráveis candidaturas independentes de António Parada e Narciso Miranda em Matosinhos? Será que apostam no domínio da Assembleia Municipal com o trágico-cómico Pedro Vinha da Costa do PSD nessa função?

  • Que raio de cidade do século XXI pode ser Coimbra com as candidaturas de Manuel Machado (PS) e de Jaime Ramos (PSD) e sem que as candidaturas independentes tenham encontrado um candidato e um projeto comum?

  • E os trânsfugas CDU, que também os há, irão ter alguma projeção eleitoral?

  • Vai Manuel Pizarro no Porto conseguir vencer o fado do “tão amigos que nós éramos” e ver reconhecida a sua meritória ação no pelouro da habitação?

  • E os restantes dinossauros? Vão ser remetidos definitivamente para o sofá lá de casa?

Outros exemplos pontuais poderiam ser avançados. Pontos quentes mas sem acrescer nada de relevante aos desafios do poder e do desenvolvimento local. Estou em crer que será das noites eleitorais em que me vou deitar mais cedo.

Sem comentários:

Enviar um comentário