quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O ASSOMO DE JUNCKER: APROVEITAR O MOMENTO




(Mais o discurso de Juncker hoje em Estrasburgo (link)sobre o estado da União e menos a Carta de Intenções hoje também distribuída e dirigida aos presidentes do Parlamento Europeu e do Conselho trazem alguma esperança de pelo menos suspender a deriva em que a União parecia mergulhada e não deixa de ser relevante que tal mensagem tenha sido emitida antes das eleições alemãs…)

Jean-Claude Juncker vestiu o fato em que melhor se movimenta, o de Europeu convicto, político experiente de muitas andanças e momentos em que a União esteve suspensa de decisões complexas e de negociações difíceis, o homem e o político das crises. Esse fato estava vestido quando propõe uma União de Valores –liberdade, igualdade e papel da lei.

A metáfora náutica vem a preceito:

“Let us make the most of the momentum, catch the wind in our sails”.

Praticamente todo o discurso do estado da União está estruturado em torno da ideia de janela de oportunidade, os bons ventos que a União deve captar nas suas velas. Janela de oportunidade seja ela a de união perante a deriva americana, a de finalmente ter alcançado alguma estabilização do fenómeno dos refugiados (sabemos a que custo), a das oportunidades em termos de politica comercial com outros blocos geoestratégicos que não os EUA, a do período relativamente bonançoso em matéria económica, esta janela vista sobretudo segundo o critério de que todos os 27 se encontram em trajetórias de recuperação.

A carta de intenções que agrupa as agendas propostas pela Comissão Europeu ao Parlamento e ao Conselho é menos empolgante, sobretudo porque dificilmente nos libertamos da memória de frustração de tantas outras agendas que se multiplicaram como pães em momento de milagre, que espremidas trouxeram muito pouco.

O discurso agarra politicamente as coisas e a União precisa mais de política do que de outra coisa. Curiosa a referência às questões da transparência das opções da Comissão e do Conselho em matéria de negociações e de acordos como, por exemplo, os acordos de comércio. Transparência no sentido de não marginalização dos parlamentos nacionais e dos próprios cidadãos, assumindo Juncker o compromisso de publicação por parte da Comissão de todas as propostas de mandato de negociação endereçadas ao Conselho Europeu.

Claro que não há metáforas sem mácula e aquela referência à geografia é para nós frustrante: “Make no mistake, Europe extends from Vigo to Varna. From Spain to Bulgaria”.

Fortes para além da metáfora do vento e das velas são a referência do combate à fragmentação e ao dumping social na Europa, com imposição de uma meta política para a cimeira de Gotemburo em novembro em termos de aprovação do Pilar Europeu dos direitos sociais. E também a proposta para a criação do ministro da Economia e das Finanças da União, simultaneamente Vice-Presidente da Comissão e Presidente do Eurogrupo, com sotaque francês de Macron, embora se aguarde o que é que a Comissão se reserva em termos de papel a desempenhar. E finalmente alguma ambição com a meta para março de 2019, data de consumação do Brexit, de alargamento da zona euro a todos os membros do cube a 27 com as suas obrigações e instituições associadas.

O discurso de Juncker tanto pode ser visto como um assomo de fim de carreira ou como uma janela de oportunidade, tal qual o presidente da Comissão o apresentou. Só as cenas dos próximos capítulos irão demonstrar qual das perspetivas prevalecerá. Mas pelo menos há ideias na mesa, coisa que rareava nos últimos tempos.

Sem comentários:

Enviar um comentário