(Mais
o discurso de Juncker hoje em Estrasburgo (link)sobre o estado da União e menos a
Carta de Intenções hoje também distribuída e dirigida aos presidentes do Parlamento
Europeu e do Conselho trazem
alguma esperança de pelo menos suspender a deriva em que a União parecia mergulhada
e não deixa de ser relevante que tal mensagem tenha sido emitida antes das
eleições alemãs…)
Jean-Claude
Juncker vestiu o fato em que melhor se movimenta, o de Europeu convicto, político
experiente de muitas andanças e momentos em que a União esteve suspensa de
decisões complexas e de negociações difíceis, o homem e o político das crises. Esse fato
estava vestido quando propõe uma União de Valores –liberdade, igualdade e papel
da lei.
A metáfora náutica vem a
preceito:
“Let us make the most of the
momentum, catch the wind in our sails”.
Praticamente todo o
discurso do estado da União está estruturado em torno da ideia de janela de
oportunidade, os bons ventos que a União deve captar nas suas velas. Janela de
oportunidade seja ela a de união perante a deriva americana, a de finalmente
ter alcançado alguma estabilização do fenómeno dos refugiados (sabemos a que custo),
a das oportunidades em termos de politica comercial com outros blocos geoestratégicos
que não os EUA, a do período relativamente bonançoso em matéria económica, esta
janela vista sobretudo segundo o critério de que todos os 27 se encontram em
trajetórias de recuperação.
A carta de intenções que
agrupa as agendas propostas pela Comissão Europeu ao Parlamento e ao Conselho é
menos empolgante, sobretudo porque dificilmente nos libertamos da memória de
frustração de tantas outras agendas que se multiplicaram como pães em momento
de milagre, que espremidas trouxeram muito pouco.
O discurso agarra
politicamente as coisas e a União precisa mais de política do que de outra
coisa. Curiosa a referência às questões da transparência das opções da Comissão
e do Conselho em matéria de negociações e de acordos como, por exemplo, os
acordos de comércio. Transparência no sentido de não marginalização dos
parlamentos nacionais e dos próprios cidadãos, assumindo Juncker o compromisso
de publicação por parte da Comissão de todas as propostas de mandato de
negociação endereçadas ao Conselho Europeu.
Claro que não há metáforas
sem mácula e aquela referência à geografia é para nós frustrante: “Make no mistake, Europe extends from Vigo to Varna. From Spain
to Bulgaria”.
Fortes para além da metáfora
do vento e das velas são a referência do combate à fragmentação e ao dumping
social na Europa, com imposição de uma meta política para a cimeira de Gotemburo
em novembro em termos de aprovação do Pilar Europeu dos direitos sociais. E
também a proposta para a criação do ministro da Economia e das Finanças da União,
simultaneamente Vice-Presidente da Comissão e Presidente do Eurogrupo, com sotaque
francês de Macron, embora se aguarde o que é que a Comissão se reserva em
termos de papel a desempenhar. E finalmente alguma ambição com a meta para março
de 2019, data de consumação do Brexit, de alargamento da zona euro a todos os
membros do cube a 27 com as suas obrigações e instituições associadas.
O discurso de Juncker
tanto pode ser visto como um assomo de fim de carreira ou como uma janela de
oportunidade, tal qual o presidente da Comissão o apresentou. Só as cenas dos
próximos capítulos irão demonstrar qual das perspetivas prevalecerá. Mas pelo
menos há ideias na mesa, coisa que rareava nos últimos tempos.
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