(Por motivos de compromissos
de trabalho e de logística familiar não vou poder hoje estar presente nas duas sessões
de homenagem ao Professor Valente de Oliveira, na sessão da CCDRN e no jantar
do Círculo Universitário do Porto; daí que publicamente e aproveitando este espaço expresse aqui a minha
homenagem…)
Luís Valente de Oliveira é um social-democrata
cuja consistência de posicionamentos políticos e cívicos e de empenhamento na
vida sua Cidade e da sua Região gostaríamos de ver preservados num PSD hoje
entregue a gente de outras galáxias, bem menos consistentes e a anos-luz da
dimensão ética que tem transmitido à sua intervenção.
A minha vida tem-se cruzado com o Professor
em diferentes momentos e sinto que desses momentos tenho saído sempre
fortalecido.
Quando debutei na CCDRN como consultor e lá
desenvolvi atividade como se um quadro interno se tratasse, com total liberdade
de pensamento e autonomia de escrita, os meus contactos com o Professor eram
sempre de dois tipos: discussão de textos de estratégia e política regional que
tinham simultaneamente como destinatários a Região e o Governo e textos sobre
cooperação internacional, tempos em que a CCDRN era pioneira de participação (O
Professor foi Presidente da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas, onde
me apercebi do seu enorme prestígio perante as regiões europeias). Aprendi sempre
muito com essas discussões, fui muitas vezes aconselhado a moderar expressões
em frases de regionalismo mais arrebatado (onde vai esse arrebatamento, com
alguma desilusão regional?), mas sempre num clima de absoluto respeito pela
produção intelectual. Guardo ainda religiosamente esses meus textos, que se
transformaram em textos da instituição e ainda hoje, por vezes, o Engenheiro
Ricardo Magalhães, me faz chegar amavelmente alguns desses textos descobertos por
acaso no seu arquivo em arrumação. O prestígio então da instituição era
indissociável do maneira de estar na política e na coisa pública do Professor e
acho que toda aquela comunidade reconhecia essa evidência.
Nesse período, assisti no auditório da CCDRN ao
evento que me marcou para sempre em termos de desprezo de estimação, conservado
e renovado ao longo do tempo, ainda esta semana, pela personalidade Aníbal Cavaco
Silva. Num auditório que fervilhava de convicções regionais, o Professor sofreu
em público uma desautorização cruel que a todos nos incomodou e revoltou. Cavaco,
do alto da sua função, proclamava algo de similar aquela máxima que a economia
do desenvolvimento ajudou a desconstruir em absoluto: crescer primeiro e
redistribuir depois. O tom era o seguinte e em palavras simples: deixem-se de
infantilidades regionais, o país não se compadece com esses desvios, crescimento
primeiro e depois os famigerados trickle-down
effects produzirão resultados que amortecerão e colocarão na gaveta todos
os impulsos regionalistas. Há momentos que se cavam para sempre na nossa vivência
e esse foi seguramente um deles. Quando uns largos anos depois e já Cavaco estava
em funções de Presidente da República, acedi ao convite do Professor David
Justino para participar num almoço de ideias sobre o vale do Ave, calhou-me por
desgraça ficar na mesa do Restaurante S. Gião, no coração do Ave, mesmo em frente
à personagem, com a companhia ao lado do Joaquim Azevedo. A recordação daquela
sessão no auditório da CCDRN acompanhou-me durante todo o almoço e nem o
excelente cabrito do S. Gião me soube como o costume.
Por outros momentos e já depois de terminada
a minha experiência de trabalho na CCDRN, tenho-me cruzado com o Professor em diferentes
eventos públicos, como por exemplo discutindo a questão da Área Metropolitana
do Porto, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Foi sempre
estimulante a troca de ideias, como o foram sempre as curtas conversas de
circunstâncias na barbearia Invicta no Carmo, que ambos frequentamos ou na Casa da Música.
Como universitário, acho que a Universidade do
Porto e a Faculdade de Engenharia foram algo injustas no modo como receberam o
Professor depois do seu mandato como Ministro da Educação. Mas já lá vai.
Em fins de 2016, o Professor teve a gentileza
de me conceder uma entrevista no âmbito no âmbito do estudo para a Associação
Comercial do Porto sobre a proposta apresentada pelo PS de eleições diretas
para as Presidências das Áreas Metropolitanas. A entrevista foi o pretexto para
um chá na sua casa sobranceira ao Douro, estimulante como sempre, ideias sempre
claras, abundante reflexão comparativa. A conversa deu para falar das suas memórias
em elaboração, a secretária era toda ela um manancial de registos a coligir, e
de algumas circunstâncias da política.
Estou certo que essas memórias representarão
um documento único para nos ajudar a compreender o aprofundamento da democracia
em Portugal. Talento e perspicácia não lhe faltam e a sua prodigiosa mundividência
serão seguramente elementos que serão capitalizados nesses registos de memória.
Meu caro Professor Luís Valente de Oliveira
que a lucidez e a clarividência nunca o abandonem, a Cidade e a Região orgulham-se
de o ter como companheiro de rota para o desenvolvimento que todos ambicionamos.
Novas oportunidades haverá por certo para
cruzarmos ideias, das quais sairei sempre mais enriquecido.
Homenagem singela do
António Manuel Figueiredo
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