sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HOMENAGEM MERECIDA




(Por motivos de compromissos de trabalho e de logística familiar não vou poder hoje estar presente nas duas sessões de homenagem ao Professor Valente de Oliveira, na sessão da CCDRN e no jantar do Círculo Universitário do Porto; daí que publicamente e aproveitando este espaço expresse aqui a minha homenagem…)

Luís Valente de Oliveira é um social-democrata cuja consistência de posicionamentos políticos e cívicos e de empenhamento na vida sua Cidade e da sua Região gostaríamos de ver preservados num PSD hoje entregue a gente de outras galáxias, bem menos consistentes e a anos-luz da dimensão ética que tem transmitido à sua intervenção.

A minha vida tem-se cruzado com o Professor em diferentes momentos e sinto que desses momentos tenho saído sempre fortalecido.

Quando debutei na CCDRN como consultor e lá desenvolvi atividade como se um quadro interno se tratasse, com total liberdade de pensamento e autonomia de escrita, os meus contactos com o Professor eram sempre de dois tipos: discussão de textos de estratégia e política regional que tinham simultaneamente como destinatários a Região e o Governo e textos sobre cooperação internacional, tempos em que a CCDRN era pioneira de participação (O Professor foi Presidente da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas, onde me apercebi do seu enorme prestígio perante as regiões europeias). Aprendi sempre muito com essas discussões, fui muitas vezes aconselhado a moderar expressões em frases de regionalismo mais arrebatado (onde vai esse arrebatamento, com alguma desilusão regional?), mas sempre num clima de absoluto respeito pela produção intelectual. Guardo ainda religiosamente esses meus textos, que se transformaram em textos da instituição e ainda hoje, por vezes, o Engenheiro Ricardo Magalhães, me faz chegar amavelmente alguns desses textos descobertos por acaso no seu arquivo em arrumação. O prestígio então da instituição era indissociável do maneira de estar na política e na coisa pública do Professor e acho que toda aquela comunidade reconhecia essa evidência.

Nesse período, assisti no auditório da CCDRN ao evento que me marcou para sempre em termos de desprezo de estimação, conservado e renovado ao longo do tempo, ainda esta semana, pela personalidade Aníbal Cavaco Silva. Num auditório que fervilhava de convicções regionais, o Professor sofreu em público uma desautorização cruel que a todos nos incomodou e revoltou. Cavaco, do alto da sua função, proclamava algo de similar aquela máxima que a economia do desenvolvimento ajudou a desconstruir em absoluto: crescer primeiro e redistribuir depois. O tom era o seguinte e em palavras simples: deixem-se de infantilidades regionais, o país não se compadece com esses desvios, crescimento primeiro e depois os famigerados trickle-down effects produzirão resultados que amortecerão e colocarão na gaveta todos os impulsos regionalistas. Há momentos que se cavam para sempre na nossa vivência e esse foi seguramente um deles. Quando uns largos anos depois e já Cavaco estava em funções de Presidente da República, acedi ao convite do Professor David Justino para participar num almoço de ideias sobre o vale do Ave, calhou-me por desgraça ficar na mesa do Restaurante S. Gião, no coração do Ave, mesmo em frente à personagem, com a companhia ao lado do Joaquim Azevedo. A recordação daquela sessão no auditório da CCDRN acompanhou-me durante todo o almoço e nem o excelente cabrito do S. Gião me soube como o costume.

Por outros momentos e já depois de terminada a minha experiência de trabalho na CCDRN, tenho-me cruzado com o Professor em diferentes eventos públicos, como por exemplo discutindo a questão da Área Metropolitana do Porto, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Foi sempre estimulante a troca de ideias, como o foram sempre as curtas conversas de circunstâncias na barbearia Invicta no Carmo, que ambos frequentamos ou na Casa da Música.

Como universitário, acho que a Universidade do Porto e a Faculdade de Engenharia foram algo injustas no modo como receberam o Professor depois do seu mandato como Ministro da Educação. Mas já lá vai.

Em fins de 2016, o Professor teve a gentileza de me conceder uma entrevista no âmbito no âmbito do estudo para a Associação Comercial do Porto sobre a proposta apresentada pelo PS de eleições diretas para as Presidências das Áreas Metropolitanas. A entrevista foi o pretexto para um chá na sua casa sobranceira ao Douro, estimulante como sempre, ideias sempre claras, abundante reflexão comparativa. A conversa deu para falar das suas memórias em elaboração, a secretária era toda ela um manancial de registos a coligir, e de algumas circunstâncias da política.

Estou certo que essas memórias representarão um documento único para nos ajudar a compreender o aprofundamento da democracia em Portugal. Talento e perspicácia não lhe faltam e a sua prodigiosa mundividência serão seguramente elementos que serão capitalizados nesses registos de memória.

Meu caro Professor Luís Valente de Oliveira que a lucidez e a clarividência nunca o abandonem, a Cidade e a Região orgulham-se de o ter como companheiro de rota para o desenvolvimento que todos ambicionamos.

Novas oportunidades haverá por certo para cruzarmos ideias, das quais sairei sempre mais enriquecido.

Homenagem singela do

António Manuel Figueiredo

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