Erdogan não é flor que
se cheire. Todos o sabemos. A autocratização do regime turco é demasiado
evidente sob a condução política de Erdogan e com os traços fascizantes que vão
emergindo a leste a União já tem problemas de falta de cultura democrática que
bastem. Introduzir na União mais um cavalo nesse sentido só por suicídio político
poderia ser compreendida.
Mas isso não significa
que se possa afastar a questão turca num rodapé de debate. Apesar da suspensão
prática dos processos preliminares para uma adesão mesmo que remota, a questão
turca estará omnipresente na política externa da União.
Há dois elementos que
importa recordar para poder ser compreendido o verdadeiro lio em que a senhora
Merkel, com o consentimento de praticamente todo o Conselho Europeu, colocou a
política de refugiados, a partir do momento em que selou o acordo com a Turquia,
e já nessa altura Erdogan era tudo menos uma virgem arrependida.
O briefing diário que o
Financial Times coloca na minha caixa de correio eletrónico sobre as questões
de Bruxelas dedica-lhe hoje a atenção devida, com a acutilância que lhe é própria.
O primeiro elemento prende-se
com a relevância da Turquia como destino de refugiados, particularmente dos que
decorrem da guerra da Síria. A Turquia não está muito longe dos 3,5 milhões de
refugiados acolhidos no seu território, o que contrasta com o milhão e
trezentos mil acolhidos pela Alemanha. É um número impressionante. A Turquia é
um verdadeiro tampão. Não é difícil imaginar as consequências de um rompimento
do acordo oportunamente realizado, se projetarmos por exemplo uma espécie de
abertura de reservatório.
O segundo elemento é
ainda mais surpreendente do ponto de vista sobretudo do posicionamento de
Martin Schultz e do SPD.
O SPD é o partido de
referência entre os turcos alemães. A última sondagem conhecida permite
concluir que o SPD acolhe quase 70% das preferências de voto entre a população turca
que pode votar na Alemanha. Neste contexto, vá lá compreender-se a estratégia
eleitoral de Schultz.
Sem comentários:
Enviar um comentário