Fonte: https://www.bloomberg.com/view/articles/2017-09-20/why-workers-are-losing-to-capitalists
O fim de tarde em Seixas
trouxe-nos os últimos raios do verão, anunciando pelo menos no seu início um outono
tépido. Sabe bem, mas a seca anunciada em muitas partes do território nacional é
preocupante e a amenidade pode custar-nos caro.
Em plena amenidade de
fim de verão, tempo para recordar um dos temas recorrentes da economia neste
espaço, a quebra acentuada que os rendimentos do trabalho têm vindo a revelar
em percentagem do PIB, sobretudo após o início do novo milénio. O epicentro do
debate faz-se a partir da economia americana como quase sempre acontece. Mas o
fenómeno é reconhecido noutras paragens, sugerindo que é a configuração distributiva
do capitalismo que estará em reformulação, não por acaso coincidente com o espalhanço
redondo da social-democracia que vai vegetando, veja-se por exemplo a
incapacidade do SPD alemão retomar uma trajetória de crescimento eleitoral.
Noah Smith no Bloomberg
View oferece-nos um elucidativo resumo dos contributos explicativos mais
relevantes que se têm juntado ao debate.
A progressiva monopolização
e oligopolização da economia americana, reconfigurando as relações laborais e reduzindo
o poder de barganha dos representantes do trabalho, quando os há, sempre foi
apontada como uma causa decisiva da queda do peso do rendimento do trabalho. Mas
os trabalhos recentes dos economistas David Autor, David Dorn, Lawrence Katz e John
Van Reenen mostram que a monopolização responde apenas por 20% da mudança operada
na quota dos rendimentos do trabalho. O que significa que 4/5 do fenómeno
continua por explicar e é nesses 4/5 que normalmente a globalização (com a deslocalização
da produção em offshoring) e a automação dispensadora de trabalho entram em
funções explicativas.
A economia tem
experimentado sérias dificuldades em separar o efeito da globalização e da
automação, leia-se do comércio internacional e do progresso técnico. Ora, talvez
sem surpresa, três economistas do FMI vieram recentemente a terreiro mostrar que
é a intervenção combinada da globalização e da automação que explicará a queda
do peso dos rendimentos do trabalho. A evidência central com que trabalham é fornecida
pela extensão da queda do peso dos rendimentos do trabalho aos países em
desenvolvimento. Trata-se de puzzle complicado. Em princípio, globalização e
automação não deveriam nesses países reduzir o peso dos rendimentos do trabalho.
A globalização deveria permitir a esses países valorizar o seu trabalho mais
barato no comércio internacional. E a automação, como o avanço tecnológico
desses países está a anos-luz do prevalecente nas economias avançadas, também não
deveria provocar a referida queda. Como explicar então a queda dos rendimentos
do trabalho em percentagem do PIB desses países? A resposta é simples e tão
velha como a minha passagens pelos temas do desenvolvimento. Mesmo com progresso
técnico menos avançado, a relação produtividade /salário é francamente favorável
ao capital e, nesses países, a redução da pobreza por via do trabalho
assalariado de salários baixos é compatível com a queda dos rendimentos do trabalho
no PIB.
Fonte: FMI - http://voxeu.org/article/routinisation-globalisation-and-fall-labour-s-share-income
Já nas economias avançadas,
globalização e automação potenciam-se mutuamente.
Como é que se sai disto?
O ressurgimento da social-democracia também passa por aqui.
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