sexta-feira, 22 de setembro de 2017

AINDA O PESO DO TRABALHO NO RENDIMENTO

Fonte: https://www.bloomberg.com/view/articles/2017-09-20/why-workers-are-losing-to-capitalists





O fim de tarde em Seixas trouxe-nos os últimos raios do verão, anunciando pelo menos no seu início um outono tépido. Sabe bem, mas a seca anunciada em muitas partes do território nacional é preocupante e a amenidade pode custar-nos caro.

Em plena amenidade de fim de verão, tempo para recordar um dos temas recorrentes da economia neste espaço, a quebra acentuada que os rendimentos do trabalho têm vindo a revelar em percentagem do PIB, sobretudo após o início do novo milénio. O epicentro do debate faz-se a partir da economia americana como quase sempre acontece. Mas o fenómeno é reconhecido noutras paragens, sugerindo que é a configuração distributiva do capitalismo que estará em reformulação, não por acaso coincidente com o espalhanço redondo da social-democracia que vai vegetando, veja-se por exemplo a incapacidade do SPD alemão retomar uma trajetória de crescimento eleitoral.

Noah Smith no Bloomberg View oferece-nos um elucidativo resumo dos contributos explicativos mais relevantes que se têm juntado ao debate.

A progressiva monopolização e oligopolização da economia americana, reconfigurando as relações laborais e reduzindo o poder de barganha dos representantes do trabalho, quando os há, sempre foi apontada como uma causa decisiva da queda do peso do rendimento do trabalho. Mas os trabalhos recentes dos economistas David Autor, David Dorn, Lawrence Katz e John Van Reenen mostram que a monopolização responde apenas por 20% da mudança operada na quota dos rendimentos do trabalho. O que significa que 4/5 do fenómeno continua por explicar e é nesses 4/5 que normalmente a globalização (com a deslocalização da produção em offshoring) e a automação dispensadora de trabalho entram em funções explicativas.

A economia tem experimentado sérias dificuldades em separar o efeito da globalização e da automação, leia-se do comércio internacional e do progresso técnico. Ora, talvez sem surpresa, três economistas do FMI vieram recentemente a terreiro mostrar que é a intervenção combinada da globalização e da automação que explicará a queda do peso dos rendimentos do trabalho. A evidência central com que trabalham é fornecida pela extensão da queda do peso dos rendimentos do trabalho aos países em desenvolvimento. Trata-se de puzzle complicado. Em princípio, globalização e automação não deveriam nesses países reduzir o peso dos rendimentos do trabalho. A globalização deveria permitir a esses países valorizar o seu trabalho mais barato no comércio internacional. E a automação, como o avanço tecnológico desses países está a anos-luz do prevalecente nas economias avançadas, também não deveria provocar a referida queda. Como explicar então a queda dos rendimentos do trabalho em percentagem do PIB desses países? A resposta é simples e tão velha como a minha passagens pelos temas do desenvolvimento. Mesmo com progresso técnico menos avançado, a relação produtividade /salário é francamente favorável ao capital e, nesses países, a redução da pobreza por via do trabalho assalariado de salários baixos é compatível com a queda dos rendimentos do trabalho no PIB. 

 Fonte: FMI - http://voxeu.org/article/routinisation-globalisation-and-fall-labour-s-share-income

Já nas economias avançadas, globalização e automação potenciam-se mutuamente.

Como é que se sai disto? O ressurgimento da social-democracia também passa por aqui.

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