(Nos dois domínios
mais penalizadores da ação global do governo, incêndios e desaparecimento de
material de guerra de Tancos, para além da complexidade dos temas e das fragilidades
das estruturas administrativas, a prestação dos ministros responsáveis não pode ser ignorada. No caso do
ministro da Defesa, corro o risco de ser injusto, mas é de diletantismo que
devemos falar…)
Sou dos que penso que, face ao atual estado
das coisas em matéria de fragilização do Estado e da sua máquina administrativa,
a função e a responsabilidade dos Ministros deveriam ser reequacionadas. A
forma leviana e apressada como diferentes governos foram desvalorizando as estruturas
técnicas de planeamento e de estudo de suporte aos ministérios, substituindo-as
na prática por grupos amovíveis de assessores de ministros e de secretários de
Estado, haveria de fragilizar irremediavelmente a organização do Estado. Se
juntarmos a esta tendência pesada as consequências dos cortes orçamentais sem qualquer
estratégia de reorganização de suporte, vulgo cortes a eito e por parâmetros abstratos,
podemos imaginar o pior a cada esquina ou a cada corredor da administração pública.
Posso imaginar que, senão a totalidade dos que exercem a função ministerial, pelo
menos os mais avisados, tem consciência destas limitações que pesam sobre a
cadeia de comando político, quando decidem assumir funções de poder.
Por outro lado, o ministro da Defesa Dr. Azeredo
Lopes oferece-me como universitário que conheci em algumas aproximações de trabalho
à Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto a melhor das
impressões. Sempre crítico, heterodoxo, mordaz por vezes, é alguém com quem a
conversa é sempre estimulante. Por isso, tenho a consciência de que este meu
comentário pode ser injusto, mas não posso deixar de o fazer.
Na sequência de outros aparecimentos públicos,
a mais recente entrevista em que Azeredo Lopes volta a enrolar-se com a questão
de Tancos e do agora pretenso roubo de material de guerra é, em meu entender,
um mau serviço pedagógico a uma mais clara relação entre os cidadãos e a
atividade ministerial. Diletantemente, como se estivesse numa reunião de brainstorming
de ideias no meio académico ou em tertúlias especializadas, o ministro entregou-se
à tarefa de cenarizar o que pode afinal ter acontecido em Tancos. Isto não em primeira
mão mas, como é conhecido, depois das mais desconchavadas e descoordenadas explicações
com que governo e representantes das estruturas militares nos brindaram nos
dias imediatos ao acontecimento, ou melhor à comunicação do acontecimento. A
nossa inteligência de cidadãos já tinha sido profundamente ferida naqueles dias,
estupefactos com o modelo de guerra do “podia ó chamá-lo” do saudoso Solnado envolvido
em questões de segurança de que depende a nossa vida em tempos tão incertos. Quando
já tínhamos parcialmente recuperado de tal choque, eis que agora o Ministro nos
brinda com alguns truques de cenarização, para nos dizer, se calhar nas suas
mais profundas intenções, que manda pouco ou que o seu poder é simplesmente virtual.
O puro diletantismo no exercício do poder corre sempre mal, é tão só uma questão
de tempo.
Azeredo Lopes não é um académico virgem na
política. A sua presença na campanha inicial de Rui Moreira é disso prova. A
sua passagem pela Entidade Reguladora da Comunicação Social em tempos tão difíceis
gerados pelas ambições de Sócrates é, por si só, um espaço de aprendizagem política
e da dura. Por isso, perante jornalistas e sabendo que a instituição militar
estaria de olhos e ouvidos bem atentos ao que naquela entrevista seria afirmado,
o ministro optar pela postura diletante tem que se lhe diga. Será que Azeredo
Lopes resolveu utilizar aquele momento para iniciar uma cruzada de reconsideração
das funções e responsabilidades ministeriais, rebaixando expectativas?
Ser ou não militar não é seguramente critério
para se encontrar um bom/mau ministro da Defesa. Já conhecer e interpretar bem a
relação funcional com as chefias militares parece-me vital. Mas, diletantemente,
confrontar a frio e de chofre os cidadãos com as fragilidades do exercício do
poder é, neste período de incerteza e de angústias de cidadania, um mau serviço
pedagógico à política.
E, bem pior do que isso, é dar a palavra na oposição a quem
não tinha matéria relevante para abrir a boca.
Sem comentários:
Enviar um comentário