(Um pobre e modesto professor de economia de um país periférico à beira-mar plantado, como este vosso Amigo, tem obviamente os seus economistas de referência, sobretudo aqueles que fundamentaram e inspiraram as suas perspetivas mais heterodoxas, ensinando com rigor o mainstream, mas mantendo sempre a distância e o espírito críticos sobre o mesmo. Para alguém que cedo se apaixonou pela economia do desenvolvimento, na perspetiva de crescimento e desenvolvimento económico, a descoberta da economia evolucionista a partir dos contributos seminais de Joseph Schumpeter foi uma epifania de novos olhares sobre o crescimento económico e daí à perceção de que a compreensão plena dos processos de inovação era o ajuste final e definitivo com as limitações do mainstream económico. A rejeição em absoluto do mundo do equilíbrio como paradigma de compreensão da dinâmica económica e o convencimento de que a inovação e o crescimento económico eram intrinsecamente desequilibradores levaram-me à conclusão de que a economia evolucionista pedia meças a todas as restantes correntes para nos ajudar a compreender a posteriori a indeterminação da inovação. Foi nesse campo de perspetivas que a obra do economista americano Richard R. Nelson (e do seu parceiro de percursos intelectual Sidney Winter) passou a ocupar um lugar central na minha formação, cujo contributo passou a inspirar grande parte dos ensinamentos que fui procurando transmitir aos meus alunos em economia da inovação e do crescimento. Hoje, pela manhã, através da newsletter da Globelics, dei de caras com os obituários, belos obituários, escritos por Bengt-Åke Lundvall e pelas filhas Margo e Laura de Richard R. Nelson, assinalando a sua morte aos 94 anos, uma longa vida. É verdade que quando redijo esta nota e olho para a recheada estante à minha esquerda as principais obras de Richard R. Nelson estão lá, para que, sempre que necessite, a ajuda pertinente seja mobilizada, deliciando-me com aquela clareza de escrita notável que Nelson tinha, exemplo máximo do rigor com que a economia apreciativa (não formalizada matematicamente) pode e deve ser praticada.
O contributo de Richard R. Nelson para o aprofundamento do paradigma evolucionista é inestimável e não conheço outro contributo que explique tão profundamente a coevolução institucional que a inovação suscita nas sociedades mais avançadas em matéria de inovação. O seu trabalho nos anos 50 na RAND CORPORATION em Santa Mónica Califórnia foi decisivo para a sua compreensão do processo de inovação e das condições em que a I&D é concretizada. Recordo-me que entre os artigos que trabalhava com os alunos, o “Recent Evolutionary Theorizing about Economic Change” publicado em março de 1995 pelo prestigiado Journal of Economic Literature é daqueles contributos que ninguém mais esquece dada a profundidade com que o evolucionismo económico era comparado com o evolucionismo em geral, na biologia, na cultura e noutras disciplinas.
Richard R. Nelson deixa-nos, mas o rigor e a audácia do seu pensamento ficam disponíveis para que apoiados nos ombros de mais um gigante os novos investigadores estejam à altura do seu contributo para o prestígio da economia da inovação.
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