Uma discussão que circula abundantemente no espaço público nacional e europeu centra-se na necessidade recém-descoberta de a Europa consagrar mais dinheiro à sua defesa e segurança, designadamente depois da assustadora chegada do Trump 2.0 que estamos a conhecer ao dia ou mesmo à hora desde 20 de janeiro. Está realmente em vias de extinção a relação transatlântica que imperou nas décadas subsequentes à Segunda Guerra Mundial – largamente assente num peso determinante dos EUA na NATO e na sua presença efetiva num continente europeu ferido pelas agressões hitlerianas e pelas imposições da Guerra Fria que prevaleceu até à queda do Muro de Berlim – e com essa extinção em marcha adquire finalmente a Europa, sob o peso do facto consumado e “com as calças na mão”, uma consciência e um sentimento de urgência que recusou durante décadas (veja-se, no mapa acima, que apenas quatro membros europeus da NATO – Polónia, Estónia, Letónia e Grécia – ultrapassaram em 2024 os 3% do PIB em despesas de defesa sucessivamente prometidos e comprometidos pelos respetivos governos).
Estamos assim perante um quadro dramático que tem tudo para correr mal para o lado europeu, seja por via de um brutal rompimento americano das responsabilidades que tem vindo a partilhar no domínio em causa seja por via de uma menos radical mas necessariamente intransigente exigência dos EUA quanto aos termos da partilha financeira daquelas responsabilidades. Atente-se nas estimativas feitas por várias entidades a tal propósito: ilustro com a estimativa da revista “Le Grand Continent”, que adianta um total adicional de 196,5 mil milhões de euros e de 567,3 mil milhões de euros por parte dos membros europeus da NATO para atingirem, respetivamente, os 3% do PIB em Defesa ou os 5% que começam a estar na boca de Trump e de alguns dos seus acólitos (com a devida e interessada ajuda de Mark Rutte) – montantes por demais significativos, apesar de conservadores em relação a outros cálculos (o “Deutsche Bank”, por exemplo, estimou em 800 mil milhões o incremento de dispêndio conducente ao cumprimento da meta de 3%) e que já se exprimem claramente nos primeiros borrões preparatórios do próximo Quadro Financeiro Plurianual e fazem com que se tenha de temer pela sustentabilidade de uma União solidária e dos próprios modelo social e modo de vida europeu. No tocante ao caso português, a incerteza em torno das nossas contas públicas volta a vir à tona – porque, definitivamente, “a manta é curta”... – e os números não são suscetíveis de engano (os 4,64 mil milhões de euros para atingirmos os ditos 3% correspondem a algo como 70% ou mais de 80% das despesas da nossa Administração Central com pessoal da área da Saúde ou da Educação). Autenticamente, um susto de arrepiar!
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