É cada vez mais claro que estamos em plena transição para uma nova (des)ordem internacional. Uma situação em que o poder da força financeira e militar prevalecerá e em que os valores democráticos serão largamente arredados de um plano relevante. E uma situação em que, ademais, as regras (?) do jogo serão determinadas por líderes autocráticos sem quaisquer escrúpulos de imporem no mundo uma versão recauchutada de agressividade imperialista.
Perante este estado de coisas, o mais aflitivo (e até humilhante!) é assistirmos à forma como a Europa é tratada no contexto (veja-se a sequência de cartoons abaixo), sendo largamente desprezada pelos novos dominadores e pondo-se a jeito para ser por eles acrescidamente abusada (até limites hoje ainda imprevisíveis), tanto mais quanto se vai já tornando indisfarçável a sua incapacidade de articulação de posições e de definição de uma estratégia minimamente comum para enfrentar a questão (como bem demonstra o inconclusivo encontro de ontem em Paris). Chega mesmo a roçar o ridículo a observação da forma como Ursula e Costa se desdobram em reuniões inconsequentes e de segunda linha enquanto os verdadeiros representantes do “trumpismo” e do “putinismo” pactam longe deles as configurações do futuro que conjuntamente querem desenhar e impor. Identicamente, Macron e Scholz (quais líderes falhados de um defunto eixo franco-alemão!), assim como as restantes chefias dos “principais países europeus” e o disparatado encarregado da NATO (Mark Rutte) mantêm o seu fechamento ou reações deslocadas em relação ao que vai ocorrendo à sua volta, apenas sobrando Keir Starmer (Reino Unido) e Ulf Kristersson (Suécia) como parecendo algo atentos ao peso das responsabilidades que se lhes apresentam perante uma Ucrânia que nestes anos todos visitaram em girândola quando tal deslocação e correspondentes promessas eram fonte de notoriedade política e popularidade pessoal.
Neste quadro, a questão que o “The Guardian” coloca (ver imagem acima), certamente pertinente numa perspetiva de wishful thinking, perde qualquer sentido útil, especialmente porque o Continente não surge em condições capazes de poder escolher entre uma via tentativa de reaproximação aos EUA ou uma hipótese seguir o seu próprio caminho – de facto, de que Continente estaríamos realmente a falar, a quem estaríamos concretamente a dirigir-nos? Uma constatação simplesmente desesperante!
Sem comentários:
Enviar um comentário