Bill Gates é um dos poucos multimilionários feitos na tecnologia que, apesar das suas idiossincrasias e deslizes, mantém um bastante meritório sentido social e geopolítico numa conjuntura em que os Musk, Zuckerberg e Bezos da vida se mostram crescentemente egocêntricos – a ponto de não se darem conta das cada vez mais afantochadas prestações que exibem – e inconcebivelmente desligados da realidade que os envolve, do bem-estar das sociedades a que pertencem e da responsabilidade que a sua expressão empresarial lhes deveria impor. Nem de propósito, a “Revista do Expresso” deste fim de semana divulgava uma entrevista de Bill Gates (traduzida do “Le Point”) em que este sublinhava a sua surpresa perante o posicionamento dos seus “colegas de fortuna” oriundos do setor das tecnologias de informação, deixava alguns remoques a um Musk a quem não obstante reconhece “recursos para fazer grandes coisas” e, sobretudo, assumia a sua localização política no centro-esquerda e a sua crença na regulamentação (ou mais adequadamente traduzido, na regulação) “mesmo quando pode ser frustrante”. Em suma: ainda vai havendo quem não tenha perdido totalmente o tino, quem consiga manter a louvável coerência de discernir entre interesses próprios e interesse coletivo, quem afirme sem pestanejar que “é fácil ficar ressentido com a burocracia governamental” mas que “nem mesmo nessa altura [das dificuldades da Microsoft no final da década de 90] me passou pela cabeça defender a eliminação do Governo ou do departamento antitrust”. Aqui fica, então, uma saudação civicamente agradecida a Bill Gates!
Sem comentários:
Enviar um comentário