terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

DOIS MELÕES, MERZ E WEIDEL, NUM EXPECTÁVEL CONFRONTO

(Thomas Plassmann, https://www.spiegel.de)

(Agustín Sciammarellahttp://elpais.com)
 

Os resultados das eleições alemãs corresponderam quase integralmente às previsões, confirmando três dados essenciais e três outros de menor impacto: (i) a vitória da CDU e de Friedrich Merz, um homem tido por muito pragmático mas ainda insuficientemente conhecido para sabermos até onde fará perdurar o “cordão sanitário” em relação à extrema-direita (a AfD da estranha Alice Weidel) e até quando resistirá à ofensiva americana sobre a Europa; (ii) a derrota histórica do SPD (traduzida no valor eleitoral mais baixo da sua história), que vem ao encontro da crise anunciada para as social-democracias europeias (já analisada neste espaço como um misto de sinal dos tempos e calinadas próprias) e não deixa de também decorrer da pouco convincente liderança de um nada empático Olaf Scholz; (iii) a chegada da extrema-direita ao lugar de segunda força política do país, uma preocupante resultante da generalizada afirmação dos populismos na Europa (aí volta a constatar-se o peso eleitoral dos left behind) e uma igualmente visível manifestação das deficientes políticas que acompanharam o processo de reunificação (a subida e a predominância da AfD em toda a ex-RDA são disso uma ilustração, que o aterrador mapa abaixo elucida cabalmente) e que, mais recentemente, acompanharam desviantemente a evolução da situação económica e social da Alemanha; (iv) o merecido castigo sofrido pelo inconcebível titular das Finanças do anterior governo (Christian Lindner) na sua qualidade de líder dos Liberais, doravante afastados do Parlamento; (v) o igualmente merecido castigo da ambiciosa e oportunista Sahra Wagenknecht que, apesar da ginástica ideológica que montou, ficou a escassas décimas de uma representação parlamentar; (vi) a entrada do “Die Linke” no Bundestag, fruto mais provável de uma alternativa por eliminação de partes para as franjas populacionais ainda não significativamente tomadas pelo discurso radical da AfD (mais as mulheres do que os homens, mais os jovens do que as restantes pessoas em idade ativa) e, assim sendo, um sinal positivo da capacidade de resposta ainda presente na sociedade. Começaremos em breve a ver o que o novo primeiro-ministro e o seu governo de “grande coligação” com o SPD nos trarão, quer no tocante a uma almejada recuperação económica (a despeito das fragilidades estruturais que têm vindo ao de cima) quer no tocante a um desempenho cabal das suas responsabilidades europeias.


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