quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

UMA ROTA ACELERADA DE DESTRUIÇÃO INTERNA E EXTERNA

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)


(Corinne Rey, “Coco”, https://www.liberation.fr) 

Já ninguém duvida da autêntica revolução reacionária e destruidora da ordem estabelecida (nacional e internacional) que está a ser levada a cabo por Trump. A última que ouvi, hoje ao acordar esta manhã, foi a de admitir a hipótese de um take over dos Estados Unidos sobre a faixa de Gaza para a transformar na Riviera do Médio Oriente. Mas há mais, muito mais e muito pior neste caminho, cuidadosamente preparado e burlescamente interpretado pelo egocêntrico presidente, que está em curso e que aqui tinha de algum modo previsto com apoio de especialistas atentos e conhecedores. Neste quadro, e através de um dos podcasts que gosto de frequentar (“Comissão Política”, produção do “Expresso”), recolhi na palavra do jornalista Davis Dinis a assustadora narrativa de síntese que seguidamente transcrevo.



“Na Sexta-Feira dei por mim a correr as notícias do New York Times, colocando duas palavras de pesquisa (Donald Trump) para tentar apanhar as notícias que saíram, apenas no New York Times repito, desde o dia 20 (quando Donald Trump tomou posse) e eu queria selecionar – um dia explico-vos porquê... – todas aquelas que representam uma ameaça à democracia liberal norte-americana. (...) Estive cerca de uma hora a guardar artigos do New York Times (...), e cheguei a umas dezenas de notícias, das quais vos posso dar exemplos que não são aqueles que são mais falados na imprensa internacional – nós conhecemos muitos e eu preocupei-me com os outros, sobretudo. Então reparem: ameaça extinguir organismos, como por exemplo o INEM lá do sítio (o FEMA, organismo que comanda as urgências), despede inspetores-gerais (justiça) sem nenhuma justificação tal como é exigido pela lei, muda chefias de outros organismos (sobretudo daqueles que procuram implementar políticas LGBT ou de combate às alterações climáticas, portanto tudo quanto não seja agenda alinhada com Trump), manda dirigentes da administração pública americana investigar ações de todo o governo Biden (quatro anos de investigação em todos os departamentos), manda outros dirigentes do Estado denunciar ações que estejam em curso e que possam contradizer as suas próprias políticas (denunciar sob pena de punição), dá por exemplo uma ordem constitucional, retira a proteção a John Bolton ou a Mike Pompeo (seus ex-governantes) que estão sob ameaça, nomeadamente, do Irão (ameaça, diga-se, de morte e ele retira-lhes a proteção do Estado, o que significa que se está nas tintas para as consequências), paralisa outros organismos independentes que vigiam as liberdades civis nos Estados Unidos, por exemplo. Eu fui recuperar o Yascha Mounk – um cientista político norte-americano de que gosto muito – e ele diz isto: no imaginário dos populistas, a vontade do povo não precisa de ser medida e qualquer compromisso com minorias é uma forma de corromper; nesse sentido, os populistas são profundamente democráticos, eles acreditam que o povo deve governar; mas também são profundamente iliberais, defendem abertamente que nenhuma instituição independente ou direitos individuais devem poder abafar as escolhas do povo. E é assim que estão os Estados Unidos hoje, imaginem daqui a quatro anos...”

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