segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

ANA, POUPE-NOS …

 


(É verdade que as eleições autárquicas poderão trazer algumas surpresas, mas tenho a intuição de que a sucessão entre elas e as presidenciais de 2026 irão provocar ao PS de Pedro Nuno Santos alguns dissabores. Nos tempos que correm, com a direita e o centro-direita demasiado seduzidos pela agenda securitária e anti-imigração da extrema-direita e populista, a perda de presa eleitoral da esquerda e centro-esquerda é uma evolução geradora de todos os perigos possíveis e os que não conseguimos por agora antecipar. Neste momento, a liderança de PNS está refém das agendas da comunicação social e um dos indicadores dessa dependência é a forma algo atabalhoada como, à pressa e sem necessidade aparente, se propõe escolher um candidato presidencial a apoiar pelo partido, num contexto em que António José Seguro é praticamente o único a ter sinalizado intenções de se apresentar ao sufrágio universal. As dificuldades de PNS estabilizar um rumo são hoje claramente mais percetíveis do que quando se perfilou para a liderança em oposição a José Luís Carneiro. Como é compreensível, num contexto de afirmação titubeante de liderança, os socialistas têm-se divertido esgrimindo velhos ódios e posições em relação aos seus possíveis candidatos presidenciais, seus ou pelo menos envolvendo personalidades com as quais o partido pode sentir-se confortável em apoiar. Parece que ainda ninguém percebeu no interior do PS o que ontem no Princípio da Incerteza José Pacheco Pereira bem explicitou e que, sem falsa modéstia, o meu post anterior pretendeu também sublinhar. Com as limitações óbvias de uma sondagem claramente antes do tempo, o facto do Almirante e de Ventura liderarem as intenções de voto significa algo de profundo nas ondas do populismo atual e que varre as redes sociais – o sentimento anti-partidos políticos e o pulsar de um desejo e sedução por lideranças fortes que endireitem tudo isto. O que significa que, como dizia JPP, são necessárias personalidades de algo calibre para combater esta tendência muito forte, matéria que as guerras de alecrim e manjerona do PS parecem não entender.)

Como é bom de ver não morro de amores quer por António José Seguro, quer por António Vitorino, e não estando agora em jogo os meus juízos de apreciação, parece ser evidente que, face aos desafios do combate que as presidenciais irão determinar, não é a escolha por qualquer uma daquelas personalidades que vai entusiasmar as hostes socialistas e projetar esse entusiasmo para campos mais vastos.

Ora, se o problema à partida já tem complexidade que chegue colocando o PS de PNS numa posição bastante difícil, Ana Gomes com a sua costumeira incontinência verbal veio a terreiro deitar mais combustível para a fogueira, referindo-se a um dos contendores, António Vitorino, em termos que favorecem a tal onda que colocou o Almirante e Ventura por agora no topo das intenções de voto nas presidenciais de 2026. Além de lhe chamar lobista aconchegou-o com mimos como “espertalhuço” e tudo indica que não ficará por aqui.

 Significa isto que o mundo político do centro-esquerda continuará embrenhado nos conflitos de egos e personalidades, afastando qualquer possibilidade de criar um contexto favorável à emergência de uma personalidade com um raio de influência mais vasto, como poderiam ser uma Elisa Ferreira ou um António Nóvoa, acaso estivessem para aí virados e há que convir que no contexto atual a motivação estará no seu grau zero.

Assim sendo, e para apenas os que são crentes, peçam ao santo de estimação que a direita democrática consiga ir à segunda volta presidencial, derrotando Ventura, e preparem-se para de olhos fechados ou fazendo das tripas coração e racionalidade de voto para apoiar esse candidato para tentar vencer o Almirante e tirar partido da sua impreparação política.

E quanto a Ana Gomes esperemos que reserve a sua incontinência verbal para denunciar aspetos que valham a pena e que não contribuam para tornar ainda mais difíceis situações que são já bastante negras.
 

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