Ontem foi a vez de entrar em cena um outro peão de Trump, o seu vice-presidente eleito (e não o Musk que como tal se apresenta em termos públicos) que alguns procuram encarar como um elemento de moderação no seio daquela indescritível Administração. E Vance foi efetivamente cristalino na transmissão da mensagem ideológica e distorcida que lhe encomendaram: na Conferência de Segurança de Munique, e passando olimpicamente ao lado de qualquer referência à guerra na Ucrânia, o dito declarou com indisfarçável lata que “a liberdade de expressão está em retrocesso na Europa, temo”, assim procurando criticar a atitude maioritariamente prevalecente no Continente de ainda não se pactuar com a cartilha da extrema-direita (por oposição a uma alegada reação antidemocrática visando suprimir ideias que são legítimas). O homem não escondeu ao que vinha desde o primeiro momento: “A ameaça que mais temo para a Europa não é a Rússia, não é a China, não é um fator externo; é a ameaça interna”, que definiu como “o recuo de alguns dos seus valores fundamentais, valores partilhados com os EUA” e caraterizou como sinal de enfermidade social (ao não ser devidamente valorizada a voz do povo). E até quis exemplificar, citando a anulação das eleições presidenciais na Roménia (onde a interferência russa e chinesa parece mais do que provada), uma alegada censura a pontos de vista antifeministas ou a imposição de cordões sanitários contra a AfD alemã (logo saudada pela sua líder Alice Weidel – there’s no room for firewalls!), não sem se dar ao desplante de tentar a sátira provocadora de referir que a Europa pode bem aguentar as interferências de Musk nas suas questões internas se também aguentou durante anos as da ambientalista Greta Thunberg! Complementarmente, Vance não deixou quaisquer dúvidas quanto à prioridade das sociedades que defende serem sadias e merecedoras de afirmação: a luta contra a imigração excessiva. Todo um ideário na boca de um sonso!
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