O ministro das Finanças apareceu-nos ainda mais inchado do que é costume, como bem retrata a primeira página do “Jornal de Negócios”. E a comunicação social, juntamente com alguma classe política necessitada de espaço mediático (com o pobre do president to be Marques Mendes à cabeça) logo vieram aplaudir o feito histórico do Governo e dos portugueses, já que o caso não parecia ser para menos: terceiro excedente da nossa democracia, ademais conseguido com números (saldo de 0,7% do PIB) bem acima do estimado no Orçamento e ainda em outubro passado – um embandeiramento em arco parcialmente justificado, especialmente se tivermos em conta as aflições que de há muito vinham passando as nossas contas públicas, mas também algo despropositado se sublinharmos a desconsideração assim feita à mais decisiva componente estrutural da economia portuguesa (porque não, a economia portuguesa não é agora um oásis esplendoroso e produtor de invejas por essa Europa fora, nem é verdade que o resultado anunciado por Sarmento corresponde a um indisputado “momento histórico” para a mesma).
Como claramente explica hoje no “Público” o jornalista Sérgio Aníbal, “são vários os fatores a contribuir para este resultado” (ver infografia abaixo). De destacar, neste plano, a muito significativa redução registada pelo investimento público (que continua a ser o maior pagador da fatura reducionista e foi também afetado pela baixa execução do PRR), a quebra na receita proveniente de fundos europeus, as poupanças em sede de consumos intermédios (o funcionamento dos serviços na berlinda) e, ainda, os impactos de uma conjuntura favorável em termos de atividade económica e mercado de trabalho (conjuntura que é, aliás, alimentada por diversos fenómenos tendencialmente desviantes em relação à desejável consolidação de uma estrutura económica capaz e duradoura) e dos marcados lucros registados pelo setor bancário (duvidosa é a robustez do modelo em que os mesmos assentam, como bem comprova a manchete do JN de hoje: “comissões pagas por clientes valem metade dos lucros da banca”).
Em suma: a economia portuguesa não está nos píncaros de coisa nenhuma, embora apresente indicações louváveis de uma trajetória positiva em curso nas suas contas públicas (muito tributária da ação nas Finanças de Mário Centeno, salvaguardados os exageros exponenciados por João Leão) que vai permitindo um combate paulatino a um dos seus principais flagelos (o nível de endividamento), sem prejuízo de alguns riscos no horizonte. E é este o ponto a merecer saliência objetiva – nem tanto ao mar, nem tanto à terra!
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