terça-feira, 11 de março de 2025

COMO SE MEDE A POPULARIDADE DE UM NARCISISTA PATOLÓGICO?

 

(A personalidade de Trump e o seu estilo de administração continuam a estar no centro do debate sobre a evolução política americana. Temo sinceramente que a efetividade dos resultados desse debate seja de mais lenta observação do que a perceção dos efeitos devastadores e destruidores que ela irá provocar na sociedade americana, mas não só, também no mundo em geral, sobretudo pelo efeito de validação e impulso que vai gerar nos comportamentos mais despudoradamente autocratas. Acho que José Pacheco Pereira tem razão em chamar a atenção para a perigosidade de um narcisista patológico com muito poder nas mãos. Mas algo mais deve estar a acontecer para justificar a impunidade que tem sido manifestada e não estou a considerar apenas os ratos sabujos que sempre se juntam e colocam em bicos de pés para aguardar ao patrão, sejam alguns magnatas do high-tech a outros personagens mais obscuros responsáveis pela captura do partido Republicano por parte do QAnon. Tenho seguido, por isso, com atenção a evolução da popularidade do narcisista patológico, seja por indicadores de opinião mais gerais sobre a aprovação da administração Trump, seja por indicadores de natureza mais indireta. Face aos resultados que vou recolhendo e sistematizando, existe para mim uma interrogação que poderia resumir como se estivéssemos perante uma estranha corrida contra o tempo: será que os sinais de diferente natureza que vão emergindo e evidenciando descontentamento com o estilo e prática da governação Trump produzirão efeitos em tempo útil para travar os efeitos devastadores e destruidores que se anunciam no horizonte próximo?

A primeira evidência que está disponível é a comparação ao longo do tempo entre as apreciações (aceitação ou rejeição) das diferentes administrações no seu período inicial de arranque e produção de efeitos. As sondagens GALLUP disponíveis mostram sem qualquer equívoco ou dúvida interpretativa que os “reinados” de Trump tiveram sempre um grau de desaprovação largamente superior aos de outras administrações. A curiosidade do gráfico com fonte GALLUP que abre este post é a de que também a administração Biden não teve um auspicioso arranque. E é também evidente que o segundo mandato de Trump tem um grau de desaprovação ligeiramente superior ao do seu primeiro mandato. Quer isto significar que as pessoas não são parvas e compreendem o que se está a passar. É também evidente que estas sondagens GALLUP dão-nos conta indiretamente do peso atual da polarização.

A segunda evidência que necessita de um teste de veracidade mais amplo é a informação de que se têm sucedido por todo o território americano manifestações junto das “Câmaras Municipais” de protesto quanto ao rumo que a governação está a tomar, ao que o porta-voz dos Republicanos responde dizendo trata-se de gente paga pelo investidor e filantropo George Soros (por exemplo, Paul Krugman veicula essa informação).



Não querendo atribuir-lhe mais valor do que intrinsecamente eles apresentam, os indicadores bolsistas podem ser entendidos como uma medida indireta de como a gente que investe em bolsa valora as consequências das várias disrupções que a administração de Trump coadjuvado por Musk. O comportamento do índice S&P 500 não engana ninguém. Os tão proclamados “mercados” estão a sancionar este arranque inicial de governação, como se bolsa e o ambiente QAnon não convivessem bem.

Por seu lado, a marca TESLA de Musk não tem passado incólume entre os pingos da chuva da disrupção criada. E não se trata apenas da Europa em que as vendas TESLA estão a cair com relevo (uma palavra de ordem possível seria nem um TESLA vendido na Europa, o que é radical está bem). Também nos EUA isso está a acontecer, embora os jornais nos transmitam a notícia de que há investidores chineses interessados em tomar posição nos investimentos de Musk.

Sintetizando, não é novidade alguma que as administrações Trump têm uma apreciação inicial bastante negativa, em confronto com Presidências anteriores. Os sinais indiretos de descontentamento existem, embora o silêncio dos Democratas é verdadeiramente ensurdecedor. E não é seguro que esses sinais de descontentamento ganhem a corrida contra o tempo das devastações e destruições anunciadas.


 

Obviamente que do ponto de vista do posicionamento atual dos EUA em matéria de liberdades, o gráfico acima é por si só revelador. Vejam-se os companheiros de quadrante dos EUA.

Porque, enquanto isso, o narcisista patológico e seus comparsas de ocasião ou de viagem longa continuarão a sua senda disruptiva. Inventando toda a série de argumentos para explicar esses sinais de descontentamento.

E assim viajaremos durante mais algum tempo, com um rasto de destruição. Esse não é indireto. É bem real, como um número cada vez maior de americanos o irá comprovar e sentir na pele.

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