Perdido no meio da balbúrdia que grassa no país e no mundo, decidi passar parte da minha tarde de ontem no cinema, aliás no Trindade onde residem algumas das minhas origens pessoais. Ia atrás de algo pouco burilado e desalienante, pelo que escolhi uma “comédia dramática” que os críticos que mais sigo recomendavam qb (apesar da “Palma de Ouro” conquistada em Cannes). Mal eu sabia, embora vários especialistas o vaticinassem, que “Anora” iria conquistar na madrugada seguinte diversos Óscares, mais precisamente cinco em seis nomeações, e assim consagrar o cinema independente (compare-se o orçamento deste filme com os da maioria dos seus competidores, numa relação de um para centenas de milhões). Quanto às minhas impressões, elas foram as melhores pela despretensiosa qualidade e originalidade do argumento, pela excelência da realização de Sean Baker, pelo talento das representações (da extraordinária Mikey Madison, que bem justificou a estatueta de melhor atriz, a dois dos russos que com ela contracenam exemplarmente, Mark Eydelshteyn no papel de Ivan e Yura Borisov no de Igor) – uma aposta totalmente conseguida, pois. Aproveito estar com a mão na massa para aqui saudar também o enorme mérito dos três outros personagens que venceram as respetivas categorias de atuação – Adrien Brody (melhor ator em “O Brutalista”, um reconhecimento que já tardava), Zoe Saldaña (melhor atriz secundária em “Emília Perez”, “uma filha orgulhosa de pais imigrantes”) e Kieran Culkin (melhor ator secundário em “Uma Verdadeira Dor”, o magnífico Roman enquanto filho mais novo de Logan Roy na série “Succession”) – e de “Ainda Estou Aqui” (melhor filme internacional, não tendo Fernanda Torres alcançado uma distinção individual mas consagrando, ao jeito de prémio de consolação, o realizador Walter Salles e o cinema brasileiro).
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