(Reflexões breves
sobre um 1º de Maio pessoalmente atribulado com trabalho intenso, oportunidade para dissertar brevemente sobre
o mundo do trabalho hoje, encravado entre duas pressões, a do comércio externo
e da tecnologia…)
Desculpas sinceras aos leitores mais assíduos, mas quatro dias intensos,
daqueles que não se recomendam a um consultor já de alguma idade,
essencialmente determinadas por uma proposta de trabalho de muita exigência
para a avaliação dos contributos dos Fundos Estruturais para a formação
avançada (doutoramentos e pós-doutoramentos). Perante as exigências crescentes
deste tipo de trabalhos, às quais não correspondem necessariamente preços
compatíveis para o esforço de investimento, não posso deixar de sorrir relativamente
às ideias que por aí correm sobre os mitos da consultoria ao Estado. Nem todos
são escritórios de advogados, o que faz uma grande diferença. Para bom
entendedor …
Pois, neste contexto pessoal atribulado, o 1º de Maio não foi comemorado
mas sim passado a trabalhar no duro, o que me levou a algumas reflexões de
pausa na intensidade, sobre o mundo do trabalho e o seu complexo enquadramento
dos dias de hoje. O foco mediático tem estado na contínua descida da taxa de
sindicalização global, com uma cada vez mais baixa percentagem de trabalhadores
inscritos em sindicatos, com algumas exceções que dão que pensar como a dos
juízes e magistrados que, por números de 2015, estavam bastante acima dos 90%.
A descida continuada da taxa de sindicalização, ou
como lhe chamam a OCDE e a União densidade sindical, significa que o peso de
trabalhadores remunerados que estão sindicalizados face à totalidade desses
trabalhadores. O gráfico que abre este post documenta essa descida mais
recente, entre 2007 e 2013, para Portugal, Espanha e média da OCDE, apanhando
por isso o período de ajustamento da economia portuguesa. Não é uma descida
brutal. É mais impressionante o valor baixo dessa taxa. Tanto mais impressionante
quanto mais a compararmos com valores para alguns países escandinavos, e aqui
regressamos nós à diferença incomodativa que estas sociedades apresentam,
interpelando-nos permanentemente. A projeção mediática do tema em Portugal tem
sido orientada para a denúncia da pretensa captura do movimento sindical por
algumas forças partidárias. Não digo que o tema não tenha relevância.
Levar-nos-ia bem longe na compreensão da evolução da história sindical, o que não
é o objeto do presente post. Curiosamente,
o tema não assumia as mesmas proporções quando a realidade dos trabalhadores
social-democratas (TSD) na UGT tinha alguma chama.
Por agora, interessa-me mais vincar as diferenças de contexto em que o
sindicalismo vive na perspetiva do que as alterações do mundo do trabalho
implicam.
Esse contexto é marcado, pelo menos, pelas seguintes evidências que vêm
assumindo traços bastante diferenciados relativamente ao passado mais recente:
- O peso das remunerações do trabalho no rendimento ou produto está em queda substancial desde a crise de 2007-2208 e não dá sinais de infletir essa evolução proximamente, até porque as forças inequalitárias no interior das empresas estão acirradas como nunca;
- A mudança tecnológica está ao rubro do ponto de vista da eliminação de tarefas rotineiras e desqualificadas e do favorecimento de postos de trabalho com qualificações mais elevadas;
- Os efeitos do comércio internacional no emprego estão também em ambiente quente de discussão, lançando nas economias mais globalizadas esta contradição: enquanto consumidores, os trabalhadores também beneficiam da entrada no mercado internacional de novas economias produzindo bens com a mesma qualidade e a mais baixo preço, mas a mudança no comércio internacional é, por vezes, muito dura, principalmente porque é rápida e muito concentrada espacialmente; podem beneficiar enquanto consumidores mas os que perdem esse emprego não têm condições para concretizar o benefício potencial.
Se juntarmos a esta tríade, a evolução da precariedade compreendemos como o
contexto é um quebra-cabeças para o sindicalismo atual. Ainda hoje, se
compreendeu que o comportamento dinâmico do mercado de trabalho em Portugal é
promissor do ponto de vista da aproximação da taxa de desemprego à média europeia
(finalmente a 1 dígito como o prevíramos neste espaço), mas com a Espanha, a
Polónia e a Croácia somos campeões da precariedade.
Estranhamento, CGTP e UGT, dando razão a alguns dos seus detratores, inebriados
com a nova relação de forças a nível político, para a qual verdadeiramente nunca
contribuíram, têm-se alheado de como enfrentar este novo contexto do mundo do
trabalho.
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