(Falácias e maus
resultados, é pouco o que o desbocado Presidente americano tem para
oferecer)
À medida que os principais títulos da sua campanha eleitoral deixam por si
só de aguentar o momento da administração Trump, ou seja quando se torna necessário
mostrar obra que se note, a fragilidade do projeto que a personagem encabeça é
flagrante.
O amplo escrutínio que a imprensa e a inteligência americanas mais consistentes
têm dedicado ao orçamento da administração Trump é devastador sobre a coerência
do mesmo. Para além do declarado desinvestimento no progressismo social, amplamente
sugerido no palavreado de Trump e seu grupo mais próximo, o orçamento recentemente
apresentado assenta numa falácia tautológica que diz bem do desaforo que grassa
por aquelas cabeças. A pena impiedosa de Lawrence Summers denuncia com clareza essa falácia, que pode resumir-se a uma ardilosa dupla contagem.
Assim, contrariando tudo o que de consistente se conhece sobre o crescimento
potencial da economia americana, cuja média de crescimento gira em torno de uma
trajetória de 1,8% de crescimento médio anual, o orçamento de Trump anuncia um
crescimento de 3%, fundamentalmente induzido segundo a administração no poder pela
redução de impostos e pela sua política regulatória, mais propriamente de
desregulamentação. Até aqui poderíamos ficar por um “wishful thinking” de qualquer tipo e acredite quem quiser iludir-se.
Mas o problema é que o mesmo orçamento anuncia que os cortes de impostos serão
neutrais e que essa neutralidade será atingida precisamente pelos efeitos no
crescimento económico. Ou seja, um erro de contas de palmatória. As descidas de
impostos não teriam qualquer custo em termos de perda de receita. Tal como
Summers corretamente o assinala, tudo se passaria como se uma empresa qualquer registasse
apenas o aumento de lucros de um investimento qualquer e não registasse contabilisticamente
o custo deste último. Neutralidade da descida dos impostos? Uma ova! Binyamim Appelbaum
tem no New York Times um bom artigo sobre a inconsistência desta pretensa
neutralidade da descida de impostos, ou também no artigo de Patricia Cohen e Nelson Schwartz (link aqui). Summers sentencia que, até agora, da administração
de Trump não tem saído nada com um mínimo de competência e de honestidade. Os americanos
devem pedir desculpa ao mundo pelo facto do seu sistema eleitoral ter permitido
que alguém com menos de 3 milhões de votos e um despautério de propostas deste
tipo tenha acesso ao poder. Uma traição à classe média americana de grandes
proporções está na calha, como Edward Luce no Financial Times o assinala (link aqui).
(Financial Times - Economic dynamism falls across the US)
E contrariando o isolacionismo inconsequente que Trump pretendeu veicular,
investigação empírica recente mostra que os estados americanos que revelaram até
2014 maior dinamismo são precisamente aqueles que apresentam uma maior percentagem
de trabalhadores nascidos no estrangeiro (link aqui). O Papa Francisco diria que um cristão
não constrói muros, mas pontes. Mas a própria economia o diz também. A abertura
favorece o dinamismo.
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