(Uma obra do economista)
(Os grandes têm desaparecido
a um ritmo impressionante, deixando um rasto de pensamento brilhante, mas é algo assustador perceber a finitude das
referências que moldaram a nossa perceção da economia…)
William J. Baumol não é propriamente um economista da dimensão de um
Kenneth Arrow, também desaparecido este ano. Mas é um economista cuja longa vida
e seguramente uma capacidade de trabalho invulgar o projetaram para inúmeros
domínios da investigação económica, alguma da qual marcante do seu rumo.
Kevin Bryan, no A Fine Theorem, dedica-lhe um extenso obituário, com um
conhecimento da obra de Baumol que não comparação com o meu limitado ponto de
vista sobre o mesmo.
Mas vale a pena referir esse ponto de vista.
Baumol foi dos primeiros economistas neoclássicos, e é bom recordar que sua
filiação doutrinária vem dessa origem, embora menos apologética do que muitos outros
seguidores, a reconhecer a fortíssima limitação do sistema neoclássico de
pensamento por não conseguir integrar na sua formulação o empresário e a função
empresarial que exerce. Como me recordo do impacto que produziu na minha formação
a leitura do seu artigo de 1968 quando ele refere que economia sem empresário
seria como termos o Hamlet sem o Príncipe da Dinamarca. Era de facto assim que
a economia neoclássica se apresentava sem o Príncipe da Dinamarca.
A curiosidade de tudo isto está em que Baumol, denunciando essa limitação
fortíssima do neoclassicismo em economia, nunca evoluiu para uma perspetiva à Schumpeter
ou para o neoevolucionismo económico. Manteve-se sempre no contexto neoclássico
introduzindo-lhe nuances e revisitando
nessa perspetiva a concorrência capitalista, distinguindo nomeadamente entre entrepreneurship produtivo, não
produtivo ou simplesmente destrutivo (ver link aqui).
Foi nesta perspetiva que tomei contacto com a sua obra. Em 2002, ainda teve
forças para produzir uma obra de referência sobre a máquina de inovação que a
economia de mercado pode representar: The Free-Market Innovation Machine – analyzing
the growth miracle of capitalismo.
Nessa obra, glosa de vários ângulos esta ideia central que por vezes ignoramos:
“a
principal arma da concorrência não é o preço mas antes a inovação”. Simples,
mas de longuíssimo alcance.
E para meu espanto a leitura do obituário de Bryan traz-me a surpresa de
que Baumol era um artista inspiradíssimo e daí talvez a sua mais recente incursão
nos temas da economia da arte (ver link aqui).
Há gente para a qual o dia tem provavelmente 48 horas ou então o seu
metabolismo é diferente, sem ser delirante.
Tive oportunidade de ver alguns quadros originais de Baumol em Rotterdam, numa exposição de "economistas-artistas" na minha escola. Comprovo, e também me surpreendeu. O dean da escola de economia em Rotterdam (Philip Hans Franses) tinha também alguns quadros de sua autoria, e tal como Baumol, também andou a estudar o tema: http://www.businessinsider.com/when-do-painters-hit-their-peak-creativity-2013-11
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