domingo, 7 de maio de 2017

WILLIAM J. BAUMOL

(Uma obra do economista)



(Os grandes têm desaparecido a um ritmo impressionante, deixando um rasto de pensamento brilhante, mas é algo assustador perceber a finitude das referências que moldaram a nossa perceção da economia…)

William J. Baumol não é propriamente um economista da dimensão de um Kenneth Arrow, também desaparecido este ano. Mas é um economista cuja longa vida e seguramente uma capacidade de trabalho invulgar o projetaram para inúmeros domínios da investigação económica, alguma da qual marcante do seu rumo.

Kevin Bryan, no A Fine Theorem, dedica-lhe um extenso obituário, com um conhecimento da obra de Baumol que não comparação com o meu limitado ponto de vista sobre o mesmo.

Mas vale a pena referir esse ponto de vista.

Baumol foi dos primeiros economistas neoclássicos, e é bom recordar que sua filiação doutrinária vem dessa origem, embora menos apologética do que muitos outros seguidores, a reconhecer a fortíssima limitação do sistema neoclássico de pensamento por não conseguir integrar na sua formulação o empresário e a função empresarial que exerce. Como me recordo do impacto que produziu na minha formação a leitura do seu artigo de 1968 quando ele refere que economia sem empresário seria como termos o Hamlet sem o Príncipe da Dinamarca. Era de facto assim que a economia neoclássica se apresentava sem o Príncipe da Dinamarca.

A curiosidade de tudo isto está em que Baumol, denunciando essa limitação fortíssima do neoclassicismo em economia, nunca evoluiu para uma perspetiva à Schumpeter ou para o neoevolucionismo económico. Manteve-se sempre no contexto neoclássico introduzindo-lhe nuances e revisitando nessa perspetiva a concorrência capitalista, distinguindo nomeadamente entre entrepreneurship produtivo, não produtivo ou simplesmente destrutivo (ver link aqui).

Foi nesta perspetiva que tomei contacto com a sua obra. Em 2002, ainda teve forças para produzir uma obra de referência sobre a máquina de inovação que a economia de mercado pode representar: The Free-Market Innovation Machine – analyzing the growth miracle of capitalismo.

Nessa obra, glosa de vários ângulos esta ideia central que por vezes ignoramos: “a principal arma da concorrência não é o preço mas antes a inovação”. Simples, mas de longuíssimo alcance.

E para meu espanto a leitura do obituário de Bryan traz-me a surpresa de que Baumol era um artista inspiradíssimo e daí talvez a sua mais recente incursão nos temas da economia da arte (ver link aqui).

Há gente para a qual o dia tem provavelmente 48 horas ou então o seu metabolismo é diferente, sem ser delirante.

1 comentário:

  1. Tive oportunidade de ver alguns quadros originais de Baumol em Rotterdam, numa exposição de "economistas-artistas" na minha escola. Comprovo, e também me surpreendeu. O dean da escola de economia em Rotterdam (Philip Hans Franses) tinha também alguns quadros de sua autoria, e tal como Baumol, também andou a estudar o tema: http://www.businessinsider.com/when-do-painters-hit-their-peak-creativity-2013-11

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