segunda-feira, 22 de maio de 2017

A VITÓRIA DE PEDRO




(O post coloca a seguinte interrogação: o que significa a vitória de Pedro Sánchez nas primárias do PSOE face às tendências que os diferentes eleitorados vêm evidenciando nas mais recentes eleições europeias?)

À medida que se vão multiplicando as reações à vitória de Sánchez nas primárias do PSOE, vitória que não fraturou geograficamente o partido, já que os acantonados foram Susana Diáz (vitória apenas na Andaluzia) e Patxi López (com vitória apenas no País Basco), é inevitável que nos questionemos sobre o significado dessa vitória face às tendências eleitorais dos últimos tempos. Isso porque, aparentemente, entre a vitória do BREXIT no Reino Unido, as eleições holandesas, a vitória de Macron em França e agora estas primárias é difícil descortinar alguma regularidade que se tenha de novo manifestado.

Mas talvez haja algo mais do que o aparente conjunto vazio. No quadro do que poderíamos designar de revolta do eleitorado de base do PSOE, há duas marcas que podem ser individualizadas. Por um lado, a ideia de radicalização. O eleitorado de base do PSOE não engoliu os argumentos de Estado para perdoar a abstenção na investidura de Rajoy, sobretudo pelas histórias de corrupção para as quais o PP continua sem antídoto credível. A radicalização está no modo como os argumentos de Estado não colheram. É verdade que se trata de umas primárias, logo mais sensíveis à radicalização. Mas ela está lá, plena e irredutível. De certa maneira, a radicalização resulta em parte da sequela dos processos de resgate financeiro e das doses extremas e desproporcionadas de austeridade. Por outro lado e em estreita relação com esta radicalização, há que registar a desvinculação das bases do PSOE para com tudo o que é figura histórica do PSOE e que apoiaram a abstenção na investidura de Rajoy. Nomes como González, Guerra, Zapatero, Rubalcalba, Blanco, Hernández (que dirigiu o partido neste intermezzo) foram profundamente derrotados no seu apoio a Susana Diáz, mostrando que o seu capital eleitoral entre as bases não é real ou está pelo menos sobrevalorizado. Aliás, o que é particularmente preocupante quanto ao modelo que governa a Andaluzia, foi possível concluir que os apoios prévios a Susana Diáz foram superiores aos próprios votos obtidos pela candidata andaluza (ver artigo de Teresa López Pavón no El Mundo de hoje). No fundo, um certo tipo de dissociação entre elites e bases, inconsoláveis estas últimas pelo apoio implícito a quem não quebrou a corrupção entre muros.

Como é óbvio, esta revolta natural das bases não faz do PSOE uma força política com potencial para a curto prazo derrotar o PP nas urnas, mas isso pode conduzir a Espanha a um novo período de ingovernabilidade. O PSOE para ser governo precisa de reconquistar as classes médias urbanas e profissionais que o levaram a altos voos passados. Que mutação vão o discurso e as propostas de Sánchez experimentarem para lograr alcançar esse objetivo?

As interrogações seguem dentro de momentos.

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