sexta-feira, 5 de maio de 2017

SALGALHADA À MODA DO PORTO




(Parecia bruxo quando antecipei problemas com o modo como o PS encarou o apoio a uma reeleição de Rui Moreira e aqui estão eles, tudo é afinal muito previsível a começar pelo PS…)

O espírito das candidaturas independentes às eleições locais, e logo numa Câmara Municipal como a do Porto, não é propriamente a de viabilizar coligações ocultas ou encapotadas, mas o de garantir que um determinado projeto não partidário se proponha a sufrágio para validação popular ou para o seu reforço quando se trata de uma reeleição.

Não tenho ideias preconcebidas quanto às virtualidades de uma candidatura independente se comparada com uma candidatura partidária. Depende do projeto que me apresentem para governar a Cidade. Sempre afirmei que, não estando em causa ao apreço pela figura de Rui Moreira e sobretudo o ar de modernidade que trouxe à Cidade depois de uma gestão cavernosa de Rui Rio, ilustrada pela sua pose majestática a ver a torre do Aleixo desabar, o PS tinha obrigação de apresentar uma candidatura ao Porto ou, pelo menos, um projeto para a Cidade que até podia ter uma forte convergência com a do movimento independente de Rui Moreira.

Não o fez e pôs-se a jeito. Não que Manuel Pizarro tenha contribuído para isso (pelo menos pela informação, que não é privilegiada, que me tem chegado). Mas sim porque há sempre uma ave canora que fala mais do que deve para ganhar uns minutos de audiência ou talvez porque a pequena política local, à medida que se caminha para os atos eleitorais, ficam impacientes, cheira-lhes a bolo no prato e a partir daí os reflexos condicionados andam à solta e tudo é expectável.

Pois, a secretária-geral em exercício, Ana Catarina Mendes, alguém que tenho em boa conta pela sua sobriedade, não sei se estimulada pelas tais cortes da política local, que não podem ser esquecidas, resolveu puxar pelos galões do partido e, não de uma vez só, valorizar o apoio do PS à candidatura de Rui Moreira em termos pelo menos dúbios e passíveis de interpretações malignas. A candidatura de Rui Moreira, um pouco amolecida nos últimos tempos, resolveu muscular o discurso, considerou todo o processo uma ingerência do PS no processo não prevista no acordo celebrado e decretou de sua justiça prescindir do apoio do PS à candidatura. Mas isto é tudo boa gente, não sabemos para quem Rui Moreira estaria a falar, não acredito que para uma secretária-geral em exercício distante do Porto e o candidato resolve que não quer o apoio do PS mas que o vereador Manuel Pizarro é outra coisa e que pode integrar a lista, não como número dois, mas como membro da lista em lugar compatível com a sua competência e lealdade (palavras de Rui Moreira).

A isto chamo eu salgalhada à moda do Porto e o Porto é useiro e vezeiro nestas coisas. Coloquemo-nos do lado do cidadão que procura compreender as dinâmicas políticas que se perfilarão a sufrágio local. Alguém percebe isto? Rui Moreira não quer o apoio do PS, mas admite Pizarro na lista, precisamente a personalidade que pela sua prática muito positiva no executivo de Moreira é o elo de ligação com um possível apoio do PS. Estou a imaginar a Federação ao rubro pelo entalamento em que Moreira coloca o PS e pela quadratura do círculo que se pede a Manuel Pizarro.

É tarde em termos de timing eleitoral e o PS está numa situação incómoda, mostrando como previra que as locais não serão favas contadas. Tem o PS tempo para apresentar um projeto próprio, com um candidato natural que seria Pizarro? Haverá ainda condições para uma nova negociação que dê o músculo que Moreira necessita e que não coloque o PS e Pizarro numa espécie de mendicidade de apoio possível?

Mas que grande salgalhada. Não houve tempo para clarificar a questão do apoio?

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