(A sociedade
portuguesa está infelizmente cheia de falsos senadores, de gente que já há
longos anos vive amarrada a uma importância que já eventualmente tiveram e que
por essa via ganham alguns minutos de mediatização, mas no fundo,
bem lá no fundo, já ninguém os ouve ou valora, até porque nada têm produzido de
relevante nos últimos tempos a não ser os fogachos que o jornalismo económico
lhes concede)
Sabemos que uma taxa de crescimento trimestral homóloga vale o que vale, em
si não diz nada de relevante a não ser quando surge inserida num conjunto diversificado
de indicadores convergentes, que anunciam algum ponto de viragem. Mas, apesar
desta sensata perspetiva e não nos parece que António Costa e Mário Centeno não
tenham sido sensatos ao interpretar esse dado macroeconómico, os 2,8 % de
crescimento incomodaram muita gente. João Salgueiro, um desses tais falsos
senadores que vendem uma importância pública que já há muito deixaram de ter e
que só uma não seletiva e acrítica imprensa económica ainda reconhece, foi uma
dessas personalidades incomodadas com o crescimento dos 2,8%. Teria sido mais
coerente uma outra argumentação, mas como lhe deve custar reconhecer os méritos
da governação atual, resolveu atirar para canto invocando que os 2,8% simplesmente
aconteceram, limitando a sua explicação a um mero reflexo da instabilidade política
internacional e dos seus efeitos na procura turística. O turismo tem dado para
muita coisa, essa instabilidade já vem de já há algum tempo, pelo que não se
percebe que seja agora o determinante fulcral dos 2,8%.
Imagino o asco que devem sentir alguns empresários portugueses, que batalham
forte na frente da exportação, enfrentando profissionalmente dificuldades de vário
tipo e conquistando quota em mercados internacionais, quando ouvem ou se confrontam com dislates
diletantes desta natureza. Salgueiro podia aderir a uma narrativa bem mais
coerente de se recusar a interpretar num crescimento económico qualquer a presença
e influência necessárias de qualquer governo. Salgueiro poderia ainda refugiar-se
no contributo dos fundos estruturais para o investimento empresarial. Mas não.
Pretendeu achincalhar o governo em funções garantindo que os 2,8% simplesmente
aconteceram e que nada foi feito para estimular o crescimento. O que custará
talvez a João Salgueiro é este governo ter beneficiado de um contexto
internacional mais favorável, ainda que não desprovido de escolhos e de
indeterminações. Talvez lhe custe ter contornado os problemas de confiança que
a solução política poderia ter gerado e que efetivamente não gerou, antes pelo
contrário. Salgueiros talvez queira apagar os efeitos de uma saída limpa que não
foi tão limpa quanto isso e relativamente à qual o seu estatuto de ex-Presidente
da Associação Portuguesa de Bancos justificaria uma perspetiva mais crítica. Não,
resolveu simplesmente fazer o género do diletante incrédulo.
Há gente que, de facto, convive mal com a irrelevância.
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