(Com uma percentagem
já elevada de votos contados e sem perspetivas de que o restante altere resultados,
a vitória de Pedro Sánchez nas primárias do PSOE, com quase dez pontos
percentuais acima de Susana Diáz, coloca o PSOE numa encruzilhada de complexa superação, com os maiores problemas
à sua esquerda num PODEMOS errático e oportunista q.b.…)
O acantonamento de Susana Diáz a uma Andaluzia,
fiel mas incapaz de representar um paradigma para toda a Espanha e o apoio que
lhe foi prestado pelas figuras mais representativas do passado do PSOE, com Zapatero
e Felipe González na primeira linha, ditaram a sua derrota e colocaram o
radicalizado Sánchez com a vitória nestas primárias de todas as decisões. As
militâncias e experiências de governo a nível regional de Susana na Andaluzia e
de Patxi López no País Basco ditaram a derrota de ambas, mas saliente a do
segundo, estropiado na polarização entre Pedro e Susana.
Tudo isto em plena moção de censura apresentada pelo PODEMOS no congresso
de deputados e com a particularidade de Sánchez não estar representado no
parlamento.
A grande interrogação consistirá em saber como o radicalizado Sánchez se
habilitará em primeiro lugar a resolver as contradições atuais entre o seu
discurso atual e o seu passado relativamente liberal no partido e, em segundo,
como conquistará a classe média urbana e profissional que fez o PSOE dos
melhores tempos do seu respaldo eleitoral pelos espanhóis. Por mais contraditório
que isso possa parecer face à radicalização de Pedro Sánchez junto dos militantes
do PSOE, os problemas principais de Sánchez estão à sua esquerda e não no PP,
pois este parece o sempre em pé que vai resistindo, bafejado pela conjuntura
macro, a todas as peripécias de corrupção que vão surgindo ao estilo “cada
cavadela, cada minhoca”.
É para mim uma enorme interrogação antecipar que postura vai o PSOE assumir
na gestão política do governo em minoria do PP, de certo modo entrincheirado
entre uma experiência em Portugal que não poderá replicar (porque lhe fala um
Partido Comunista credível e estável, embora rígido) e uma viragem ao centro que
emergiu como a única capaz de barrar o caminho à Frente Nacional. Não desejaria
ao pior inimigo político ter o PODEMOS como possível parceiro.
Fernando Garea no El País avança que a vitória de Sánchez se deve ao facto
do eleitorado votante do PSOE não ter perdoado ao partido o terem deixado Rajoy
governar e dessa perspetiva Sánchez capitalizou bem esse sentimento de
desconforto. Mas uma outra será construir uma trajetória de recuperação do
poder. Para isso o desconforto não contará.
Nesta noite de encruzilhada para o PSOE, interrogo-me como é que a
recentemente desaparecida Carme Chacón teria votado nestas primárias e como é
interpretaria o dia de amanhã? E uma sensação de grande vazio projeta-se na
minha antecipação do que espera o PSOE.
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