domingo, 21 de maio de 2017

A ENCRUZILHADA DO PSOE




(Com uma percentagem já elevada de votos contados e sem perspetivas de que o restante altere resultados, a vitória de Pedro Sánchez nas primárias do PSOE, com quase dez pontos percentuais acima de Susana Diáz, coloca o PSOE numa encruzilhada de complexa superação, com os maiores problemas à sua esquerda num PODEMOS errático e oportunista q.b.…)

O acantonamento de Susana Diáz a uma Andaluzia, fiel mas incapaz de representar um paradigma para toda a Espanha e o apoio que lhe foi prestado pelas figuras mais representativas do passado do PSOE, com Zapatero e Felipe González na primeira linha, ditaram a sua derrota e colocaram o radicalizado Sánchez com a vitória nestas primárias de todas as decisões. As militâncias e experiências de governo a nível regional de Susana na Andaluzia e de Patxi López no País Basco ditaram a derrota de ambas, mas saliente a do segundo, estropiado na polarização entre Pedro e Susana.

Tudo isto em plena moção de censura apresentada pelo PODEMOS no congresso de deputados e com a particularidade de Sánchez não estar representado no parlamento.

A grande interrogação consistirá em saber como o radicalizado Sánchez se habilitará em primeiro lugar a resolver as contradições atuais entre o seu discurso atual e o seu passado relativamente liberal no partido e, em segundo, como conquistará a classe média urbana e profissional que fez o PSOE dos melhores tempos do seu respaldo eleitoral pelos espanhóis. Por mais contraditório que isso possa parecer face à radicalização de Pedro Sánchez junto dos militantes do PSOE, os problemas principais de Sánchez estão à sua esquerda e não no PP, pois este parece o sempre em pé que vai resistindo, bafejado pela conjuntura macro, a todas as peripécias de corrupção que vão surgindo ao estilo “cada cavadela, cada minhoca”.

É para mim uma enorme interrogação antecipar que postura vai o PSOE assumir na gestão política do governo em minoria do PP, de certo modo entrincheirado entre uma experiência em Portugal que não poderá replicar (porque lhe fala um Partido Comunista credível e estável, embora rígido) e uma viragem ao centro que emergiu como a única capaz de barrar o caminho à Frente Nacional. Não desejaria ao pior inimigo político ter o PODEMOS como possível parceiro.

Fernando Garea no El País avança que a vitória de Sánchez se deve ao facto do eleitorado votante do PSOE não ter perdoado ao partido o terem deixado Rajoy governar e dessa perspetiva Sánchez capitalizou bem esse sentimento de desconforto. Mas uma outra será construir uma trajetória de recuperação do poder. Para isso o desconforto não contará.

Nesta noite de encruzilhada para o PSOE, interrogo-me como é que a recentemente desaparecida Carme Chacón teria votado nestas primárias e como é interpretaria o dia de amanhã? E uma sensação de grande vazio projeta-se na minha antecipação do que espera o PSOE.

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