quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

DA HABITAÇÃO

(Flavia Álvarez Pedrosa, “Flavita Banana”, https://elpais.com

Está na ordem do dia falar-se de habitação enquanto magna questão. Não porque a habitação não seja um passivo constante da sociedade portuguesa das últimas décadas, com perversidades insuportáveis a irem ganhando foros de cidadania e políticos incapazes a abordarem-na sem qualquer ideia do que lhes deveria competir fazer (o caso de Cristas, por exemplo, bradou aos céus!). Mas sim porque surgiu agora a oportunidade de se arranjarem para o efeito, ainda não se sabendo muito bem qual ele é em concreto, umas massas valentes no quadro do PRR (ainda um dia alguém me há de explicar o racional de algumas rubricas programáticas colocadas nesta versão nacional do Next Generation EU, lançado para enfrentar as mais duras marcas da chaga pandémica que os países europeus sofreram e financiado mutuamente!). E também sim porque o primeiro-ministro decidiu aproveitar a saída de Pedro Nuno Santos do Governo para autonomizar a área nas mãos de uma senhora de Caminha que vinha sendo, sem se notar grandemente, secretária de Estado da pasta.

 

Aqui chegado, quero repisar a ideia de que a matéria tem mais do que dignidade para merecer uma especial atenção por parte dos governos nacional ou locais. A questão da habitação é mesmo uma questão. Tanto mais que influi muito significativamente no modo e na qualidade de vida dos cidadãos, velhos e novos como diz a canção (incluindo as situações de autêntico flagelo social com que se deparam certos senhorios e inquilinos, muitos habitantes de bairros camarários, idosos isolados e outras pessoas fustigadas por incongruências que se foram acumulando) mas especialmente daqueles jovens qualificados sobre os quais tem necessariamente de recair a essência demográfica, económica e social da nossa viabilidade coletiva (ou reprodução alargada, noutra linguagem) em busca de um futuro de maior progresso. Não estou é certo de que os caminhos a trilhar sejam aqueles de que vamos ouvindo falar como prioritários, entre construção e imobiliário mais solos e falta deles, tudo isto enquanto a exploração dos sacrossantos jogos de mercado lá continua a fazer das suas sem confrontação com as regras e dinâmicas reguladoras em predominante falta.

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