Enquanto Putin prossegue a sua arremetida sanguinária, ao que parece com algum sucesso recente mas sem que se perceba até aonde quererá e poderá ir, Zelensky resiste estoicamente mas num quadro de crescente pressão sobre os seus aliados ocidentais por ajuda e equipamentos e de uma correspondente e tendencialmente ingerível dependência resultante. Com Ursula von der Leyen a apresentar-se algo histericamente como a rainha da solidariedade para com a Ucrânia...
Guerra à parte, os grandes países do mundo vivem tempos de um enorme autocentramento e alguma infantilidade, embora sem deixarem de deitar o olho sobre as sérias condicionantes do entorno. Por um lado, os Estados Unidos e a China, que agora se defrontam verbal e diplomaticamente em torno de uns balões chineses descobertos a sobrevoar território americano e do abate de um deles, numa nada edificante troca de acusações de espionagem e contraespionagem que indicia um crescendo da desconfiança recíproca e uma escalada de agressão cada vez mais possível, sem que com isso saiam desvalorizadas as questões que marcam a atualidade interna: é o caso, por exemplo, dos documentos secretos descobertos em casa e no escritório de Biden ou da obsessão pelo Covid que só lentamente vai abandonando as autoridades chinesas, após mais de um ano de absoluta prioridade ao combate à doença e dos respetivos efeitos colaterais gigantescos.
Na Europa, o eixo franco-alemão está pouco mais do que desaparecido em combate, quer por via de um Scholz hesitante e enigmático quer por via de um Macron a braços com a luta das ruas contra a sua reforma das reformas. Enquanto isso, os britânicos já não disfarçam a saudade que lhes vai crescendo pela União (até já se inventou a designação apropriada a dar-lhes, nada menos do que bregretters), com os apoiantes de um regresso a começarem a organizar-se na defesa desse objetivo necessariamente longínquo. O resto da Europa, esse lá se vai dividindo entre os medos de uma Rússia demasiado próxima (na geografia e nas memórias) e a prioridade à vida própria (tanto no sentido literal da expressão como em termos de afirmações ideológicas democraticamente incompatíveis ou em diversas sedes político-económicas, incluindo também o evitar a todo o custo de fugas voluntaristas para a frente, de mutualizações irrepetíveis e de outras “loucuras” comunitárias); um contexto em que sempre se terá de salientar a notável exceção dos ventos favoráveis que se sentem no seio da inconsciência que domina na Ibéria.
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