Talvez por alguma desatenção pessoal, foi com certa surpresa que acedi à informação dos gráficos acima: os cursos mundiais das matérias-primas (do petróleo ao gás, do trigo ao cobre) sofreram uma evolução fortemente ascendente e conheceram uma grande volatilidade e tensões especulativas significativas na decorrência da guerra na Ucrânia mas terminaram o ano num aparente regresso a uma relativa normalidade, ou seja, a valores próximos dos de início de 2022 (só o trigo surge como exceção relativa a esta regra geral).
Observemos sinteticamente o quadro energético em presença. No caso do petróleo, os seus preços de barril chegaram aos 120 dólares e andaram sempre pelos 90 a 100 em grande parte do ano mas encontram-se hoje numa faixa em torno dos 80; sem prejuízo de o que nos espera ser largamente imprevisível em virtude de todos os fatores de instabilidade que marcam este mercado e, em especial, do facto de estar em vigor um embargo europeu às compras de bruto à Rússia, com esta a retaliar provavelmente com decisões de não fornecimento aos países que adotem o plafonamento dos preços.
O caso do gás é o mais interessante. Com efeito, e o responsável pela política externa da União Europeia (Josep Borrell) disso mesmo se gabava em entrevista de há poucos dias, a dependência da União em relação à Rússia conheceu uma queda assinalável ao longo de 2022: as exportações russas para o bloco europeu passaram de 140 mil milhões de metros cúbicos em 2021 para 60 no ano transato, sendo expectável que a tendência se prolongue até níveis irrelevantes ou próximos de zero. Os dois primeiros gráficos abaixo, mesmo que não diretamente comparáveis, ilustram bem o alcance dos esforços ocorridos às diferentes escalas nacionais europeias com um relativamente eficaz acompanhamento por parte de Bruxelas. O gráfico que fecha este post, por sua vez, diz quase tudo quanto ao que de negligenciável representa hoje a dependência europeia em relação ao gás russo. Dados bastante dignos de registo e que, pese embora o contrabalanço de outras situações menos positivas, devem ser reconhecidos e louvados.
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