João Gomes Cravinho (JGC) tem estado demasiado na berlinda para o que é habitual e aceitável num ministro dos Negócios Estrangeiros. E os assuntos em causa têm-se apresentado como de diversa ordem (e até gravidade), desde alguns vindos do seu passado de ministro da Defesa mas que o colocam muito mal considerado em termos de capacidade e transparência de gestão de dinheiros públicos e de avaliação da competência dos recursos dirigentes por si tutelados (as derrapagens no Hospital Militar de Belém, o desinteresse e as omissões em relação ao facto e a posterior nomeação do responsável pelas mesmas para outro cargo público de direção) até outros de natureza mais pessoal mas também contendo elementos de estranheza e algum potencial de presença de conflitos de interesses ou de pequenos aproveitamentos de poder, passando ainda por infelizes e pouco corretas prestações públicas e na Assembleia da República.
A última inconsistência de JGC foi uma gafe cometida a propósito da alegada presença do presidente brasileiro Lula da Silva na próxima cerimónia do 25 de abril no Parlamento, facto que anunciou com assumida naturalidade sem que o mesmo tivesse sido previamente discutido e decidido pela própria instituição nos termos do respetivo regimento ― um incidente que poderá parecer menor a alguns, embora não o seja de todo em termos de cumprimento formal mínimo das regras democráticas em vigor, e que em qualquer caso não deixa de ser bem revelador de uma inconcebível inexperiência/imaturidade política ou, pior, de uma distração só provavelmente explicável por uma certa soberba e sensação de impunidade no exercício do poder.
Dito isto, sublinhe-se que o tema em si é também polémico, sobretudo na medida em que saudar uma presença de Lula na Assembleia da República (como fazem, e bem, os partidos à esquerda do nosso espetro político) não pode ser entendido como podendo equivaler a incluí-lo no centro de uma cerimónia nacional de alta importância simbólica como é a da celebração do 25 de abril de 1974, ou seja, da Liberdade. Tenho efetivamente as mais sérias dúvidas de que um qualquer país autoconfiante e em situação de normalidade, leia-se menos desorientado do que o nosso na fase que atualmente atravessa, aceitasse misturar planos e formatos ao serviço de um dignatário internacional, por muito relevante e próximo que este fosse (sendo que Lula e o Brasil são e não são, como reconhecidamente se sabe e não importará aqui explorar mais detalhadamente). Sobre a posição do PS e do Governo estamos falados porque quase tudo está dito quanto ao fim de regime que resolveram antecipar; mas importará perceber, entretanto, o que irá Marcelo dizer/fazer em relação ao tema, mais não seja através do pedagógico uso da sua permanente palavra de comentador residente de todos os canais nacionais e respetivos arredores.
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