Tenho uma declarada paixão pela leitura. Que cultivo obsessivamente sob o comando de três motores de busca predominantes e não mutuamente exclusivos: o da evasão, o da introspeção e o da curiosidade. Isto não falando do estudo e da investigação em torno de temas profissionalmente obrigatórios e também contendo dimensões fascinantes.
Por estes dias, e depois da evasão introspetiva de Ian McEwan, escolhi para livro de cabeceira um exemplar que me chegou algo fortuitamente e que iniciei a medo mas que me municiou de uma vastíssima informação analiticamente tratada de modo apelativo e alimentador de conhecimento, a saber, uma obra assinada por um professor catedrático do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova (João Paulo Oliveira e Costa), “Portugal na História ― Uma Identidade”. Um livro surpreendente pelo modo como o autor percorre os séculos à procura de tornar clara a presença de elementos de uma identidade portuguesa consolidada no tempo e através do tempo. Uma verdadeira lição de História, só ao alcance de quem dela possui uma sólida e bem assimilada visão de conjunto (tão assimilada que, por vezes, parece mesmo saltar hipotéticas passagens de indiscutível proveito para o leitor menos especializado).
Da relevância da geografia para o nascimento e a sobrevivência de Portugal à crescente afirmação e consolidação de um arreigado sentimento nacional, de uma interpretação objetiva dos sucessivos reinados e das estratégias (ou falta delas) que os guiaram a uma elucidação perspicaz do uso que foi sendo feito das armas diplomáticas ao alcance (incluindo deliciosos detalhes e alguns acasos), da construção de um país viável inevitavelmente centrado num império e nos seus variados contornos às respetivas vicissitudes de esplendor e queda, tudo isto e muito mais ressalta de um texto capaz de em cada capítulo proporcionar ao leitor uma perspetiva diferente e original da paulatina afirmação de uma nação portuguesa com natureza própria e dos contributos e acidentes históricos que foram permitindo a manutenção e sedimentação de uma improvável soberania perante uma vizinhança poderosa, influente e ambiciosa (com a conhecida exceção do período filipino). No fundo, são as razões da existência de Portugal que estão em questão, e surgem cabalmente explicadas, ao longo das seiscentas páginas que compõem a publicação que aqui recomendo.
Sem comentários:
Enviar um comentário