sábado, 11 de fevereiro de 2023

DA RESISTÊNCIA À MUDANÇA ESTRUTURAL

 

Embora algo prisioneiro da(s) sua(s) própria(s) circunstância(s) ― entre um posicionamento ideológico marcado e o mainstream académico que funciona pela perversa lógica dos papers, entre as exigências dogmáticas desta e o apelo à participação em trabalhos aplicados bastante mais maleáveis, entre uma grande competência e lucidez analítica e uma certa rigidez temática embrulhada em opções quase axiomáticas ―, Ricardo Pais Mamede é, a meu ver, um dos bons pensadores económicos da nossa praça nos dias que correm. Foi, pois, com satisfação que o vi agora assumir uma coluna no “Público”, onde poderá continuar a brindar-nos com o seu conhecimento e experiência (facto que bem se comprova nos três textos que já publicou, todos muito claros e úteis: “Em busca do Santo Graal”, “O regresso em força da política-cujo-nome-não-se-pode-pronunciar” e “Há política industrial em Portugal?”). E foi precisamente deste último escrito que o “Jornal de Negócios” retirou, com inteiro sentido de oportunidade, o excerto acima reproduzido, o qual explicita, de uma forma sintética mas cabal, um dos magnos problemas das estratégias políticas de desenvolvimento económico que por cá têm imperado (a promoção ativa de setores não prioritizáveis), sempre dominadas pela incorrigível busca política de se procurar agradar a mais e mais eleitores potenciais do que pela opção de se fazerem as escolhas pertinentes no sentido de melhor alcançar o nobre fim último em vista, a potenciação da criação de riqueza e acrescido bem-estar. O que é ademais favorecido pela trágica situação do setor financeiro português, cujas instituições enquistaram em políticas de crédito assentes numa leitura de banda eminentemente curta e dissociada de grelhas mais consonantes, porque mais finas e rigorosas, com os interesses de médio/longo prazo da economia portuguesa (mudança estrutural) e, portanto também, da própria sustentabilidade do seu projeto empresarial.

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