(Devo confessar que é cada vez mais difícil e penoso escrever sobre as incidências da política interna. A preparação do campo político para as Presidenciais tem sido trágica, desde o grau zero da política do Almirante, equiparado, vejam lá o desplante, a D. João II e a não menos penosa sucessão de possíveis candidatos à esquerda, para já não falar no titubeante posicionamento do PSD e do seu possível candidato Marques Mendes. Tenho referido a amigos próximos que já agora quantos mais melhor e que uma projeção de primeira volta com percentagens de votação inferiores a 10% seria o castigo ideal para toda esta falta de peso político de putativos candidatos. Entretanto, o atual Presidente tem feito tudo para desacreditar a função e deixar no ar uma péssima imagem do mandato presidencial, transformando a Presidência numa sucessão de estados de alma, como é, por exemplo, esta mais recente mudança de tom relativamente à governação de Montenegro. Já não há pachorra para aturar este frenesim de mensagens e pressupondo que Marcelo fala verdade quando se pretende retirar e não falar mais de política, o que é em si duvidoso, estaríamos verdadeiramente no silêncio aliciante do céu se isso vier a suceder e quanto mais depressa melhor. Pelas bandas do Governo, ele está cheio de contrastes que evidenciam uma ausência considerável de consistência interna. Basta comparar, por exemplo, os registos de um Fernando Alexandre e de um Leitão Amaro ou comparar o que vão dizendo o ministro das Finanças e o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz. Fernando Alexandre é um caso curioso de alguém que foi atraiçoado pelos números do seu próprio Ministério, de bradar aos céus, e a partir daí optou pelas palavras duras da verdade – o Ministro admitiu nesta terça-feira com clareza que vão existir durante muito tempo, milhares de alunos sem aulas.)
É verdade que “Santa Claus is coming to town”, o que explicaria que nada disto é para levar a sério e que é tempo de nos deixarmos imbuir do espírito natalício e de dádiva que caracteriza as atmosferas deste tempo. O problema é que o ambiente do mundo está pouco propício para que nos desprendamos da realidade amarga que caracterizará o Natal de uma grande maioria de população no mundo. A sociedade global está aí, chega-nos permanentemente nas notificações do nosso telemóvel ou na leitura quase religiosa que faço da imprensa internacional mais conceituada e confesso que é cada vez mais difícil abstrair dessa dura realidade.
Entretanto, regressando ao plano interno, como previa, os desenvolvimentos da querela entre a ministra da Cultura Dalila Rodrigues e o ex-ministro Pedro Adão e Silva vão colocando o chamado universo da cultura numa posição cada vez mais confrangedora. Além do contraponto claro entre dois modelos de política cultural, que não é o meu ponto de hoje, as sucessivas revelações que têm vindo a público sobre a endogamia do universo cultural são preocupantes. Existirão por certo outros mundos similares para lá do CCB. Já há muito tempo que descria daqueles que associam ao universo cultural uma espécie de reserva ética e moral.
É tudo uma questão de escrutínio democrático e tenho de convir que o mundo da cultura tem sido pouco escrutinado.
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