quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

DAS NOVAS CONTAS REGIONAIS

 

Publicação pelo INE das primeiras Contas Regionais elaboradas a partir da nova configuração das NUTS2, decidida intempestiva e gratuitamente pelo governo de António Costa. Pretende este post atualizar junto dos nossos leitores a informação disponível de acordo com a nomenclatura que passa a ser oficial, dando conta de algumas evidências que, não alterando muito do que era conhecido quanto à nossa realidade regional, permitem reforçar certos traços mais salientes.

 

A saber: (i) acima, a distribuição percentual do PIB português por grandes regiões, mostrando de forma clara a presença de dois grandes blocos (Grande Lisboa e Norte) contrastando com todas as restantes zonas (com exceção do razoável peso já detido pelo Centro); (ii) abaixo, e por ordem sucessiva, a distribuição percentual das exportações portuguesas de bens, no caso confirmando o diferenciado peso exportador do Norte e a quase irrelevância da Madeira, Algarve e Açores neste domínio, e a respetiva hierarquização do grau de abertura à exportação (de bens), no caso sublinhando a dominante exportadora da Península de Setúbal, seguida a certa distância pelo Norte, Centro e Alentejo, e a relativa baixa dimensão de abertura de uma Grande Lisboa em que os bens transacionáveis não estão no centro da sua dinâmica económica; (iii) mais abaixo ainda, o consagrado (e amaldiçoado) indicador de nível de vida que é o PIB per capita calculado à paridade de poderes de compra, estimado em relação à média da União Europeia, e mostrando uma média nacional no índice 81, uma situação largamente distinta em termos positivos da Grande Lisboa (127), com o Algarve e a Madeira a serem as únicas outras regiões acima da média nacional e todas as restantes (com exceção do Alentejo) a posicionarem-se num plano inferior ao limiar dos 75% (destaque para o impensável índice 54 da Península de Setúbal, que contribui, juntamente com o índice 63 de Oeste e Vale do Tejo, para que o Norte assim deixe estatisticamente de ser a grande região mais pobre do País); (iv) depois, a muito falível produtividade aparente do trabalho, onde o aspeto mais chamativamente paradoxal provém do estranho posicionamento do Norte manufatureiro e exportador (matéria a revisitar mais em profundidade), e o rendimento disponível bruto das famílias, este indo ao encontro da conhecida especificidade algarvia e da reconhecida vantagem remuneratória da zona lisboeta e colocando o Norte como clara lanterna vermelha do País (pesem embora algumas caraterísticas sociológicas facilitadoras, das estruturas familiares à economia informal, de uma relatividade de tal situação e de um maior grau de suportabilidade da mesma).

 

Aguarda-se agora a publicação de séries comparadas com maior alcance temporal, por forma a que algumas atualizações possam ser realizadas de molde a que algumas perplexidades possam ser devidamente explicadas – deixo um exemplo: a anteriormente ressaltada evolução em forte baixa do PIB per capita da ex-Área Metropolitana de Lisboa como resultante essencial do seu entorno (Península de Setúbal e Oeste e Vale do Tejo), o que nos remete para uma menos grave falta de dinâmica arrastadora da Região-Capital e para a correspondente necessidade de aprofundar os caminhos da sua economia e criação de riqueza. Matéria(s) a explorar em cenas de próximos capítulos.






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