(Indicador global)
(Os índices e indicadores que dão origem à publicação de rankings internacionais valem o que valem, e pode ser pouco ou pelo menos sugerir a necessidade de aprofundamentos de análise. Mas todos reconhecemos o caráter sedutor desses rankings internacionais, sobretudo para uma imprensa ou redes sociais interessadas em informação de síntese e passível de tratamento gráfico do mais sofisticado ao mais vulgar. A revista The Economist é conhecida entre outras dimensões pela publicação regular de rankings em vários domínios e, além do tratamento gráfico muito profissional, os editores regra geral fazem acompanhar tais indicadores de textos curtos mas muito incisivos. No caso vertente, em simultâneo com a publicação dos três rankings de hierarquização mundial dos países, produto per capita a preços correntes, produto per capita à paridade de poder de compra e produto por pessoa/hora empregada, a revista publica um outro indicador em que, em termos promissores, Portugal aparece muito bem colocado, aliás em consonância com outros países da Europa do Sul. Dir-me-ão os leitores mais céticos, mas que raio de indicador é esse em que Portugal emerge bem posicionado? Não estamos de facto habituados a sentir conforto com esse tipo de rankings internacionais. O indicador de que estamos a falar é um índice sintético que mede a evolução dos países em termos de capacidade para a atração de talento. A informação vale o que vale, mas não deixa de representar um critério possível para medir a consistência do nosso posicionamento internacional.)
(Indicador per capita)
O índice calculado pelo Economist mede o potencial de atração de países interessados na captação de migrantes mais qualificados, fazendo-o segundo a perspetiva dos que poderão responder, positiva ou negativamente, a esse apelo de deslocamento. O cálculo abrange 74 países e, na prática, calcula a variação potencial da população com formação superior se os licenciados migrantes responderem positivamente e com satisfação ao apelo da atração. Essa resposta é obtida através de uma sondagem mundial Gallup, que incorpora respostas de ce cerca de 150.000 pessoas em mais de 150 países. Para ajustar o indicador à ideia de atração de talento, são apenas consideradas as respostas de gente com formação superior. O indicador é calculado em duas versões, uma em termos totais e outra em termos per capita por indivíduo com formação superior.
O cálculo é realizado no período compreendido entre 2010-2012 e 2021-2023, concluindo a revista, e os gráficos selecionados atestam-no com pertinência, que no período em causa a capacidade de atração de talento triplicou, o que não é nada despiciendo.
Podemos questionar o que é que poderá estar subjacente a esta notícia promissora?
Não existindo propriamente uma política coerente de atração de talento (a política dos nómadas digitais foi relativamente fugaz), tendo a interpretar os dados do Economist como o resultado de efeitos indiretos de variáveis que terão contribuído para a avaliação positiva dos que admitem a possibilidade de mudar de país.
O primeiro elemento a considerar é a influência exercida pelo próprio turismo. A atratividade das atmosferas urbanas das principais cidades portuguesas projeta-se em grupos de população que podem ser sensíveis ao tema da mudança de país e de residência, podendo uma experiência turística que seja ser fator de geração de opinião no campo da sondagem da Gallup, seja por experiência direta, seja por comunicação entre amigos e conhecidos.
Devemos ter em conta que o indicador mede um potencial e não uma efetiva atração de talento, mas se esse potencial se alguma vez se concretizar em atração efetiva teríamos aqui uma externalidade positiva evidente do turismo, que seguramente agradaria bastante às gentes do turismo.
O segundo elemento potencialmente explicativo situa-se em meu entender na evolução combinada das empresas high-tech em Portugal e da formação avançada e evolução da investigação e desenvolvimento, designadamente da realizada em ambiente empresarial (a chamada I&D in-house). Existe uma procura efetiva de talento nesta área, aliás com efeitos na média de remunerações salariais e, por vezes, efeitos de rapina no emprego nacional já instalado. Não existe informação consistente que possa mostrar que a experiência de alunos Erasmus em Portugal possa ter alguma influência nesta avaliação que o indicador do Economist nos apresenta.
E, como terceiro fator, não desdenharia invocar o ambiente e imagem global do país que tem melhorado nas duas últimas décadas, sobretudo depois que a crise das dívidas soberanas foi debelada e que os níveis de endividamento começaram a baixar em termos de peso no PIB.
O que desperta curiosidade e atenção nestes resultados é o facto deles acontecerem na presença de fatores adversos a essa atração de talento, como o são a crise habitacional para os casais jovens menos adinheirados e a própria estrutura salarial do país, embora neste caso o segmento em causa pode antecipar melhores salários do que essa média mais baixa.
Mesmo insistindo de novo na ideia de que se trata de um indicador de atração potencial e não de atração efetiva, não posso deixar de registar que acabo o ano com pelo menos um indicador positivo e promissor, embora tal como o meu último post o evidencia, no quadro de um pessimismo estrutural quanto à situação internacional.
Mas a verdade é que podemos ter aqui um efeito de nicho positivo no quadro de um ambiente globalmente desfavorável.
A monitorizar no futuro que se abre diante de nós.
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