Transijo mais uma vez com essa rotineira mania generalizada de se escolherem os melhores do ano, que tantas vezes são sinónimo de qualidade ou revelação mas também podem ser aspetos salientes que foram destaque nos doze meses independentemente de juízos de valor. A escolha que aqui faço é claramente mais deste segundo tipo e decorre da perceção, que partilho com o meu colega de blogue, de presentes e larvares razões de pessimismo a grassarem à nossa roda e um pouco por todo o lado. E porque claramente prefiro os sinais de futuro (mesmo que péssimos ou até horripilantes) à “espuma dos dias” ou à valorização de non entities que estão de passagem e nada acrescentam, opto por ir ao (des)encontro da maioria das nomeações que encontrei por esses nossos jornais adiante (chega a haver que considere facto político nacional do ano a aprovação do Orçamento de Estado para 2025!). Vamos então ao assunto!
O caso mais benigno, sobretudo pela irrelevância nacional e porque os nossos problemas valem o que valem no contexto que nos carateriza, é o da personalidade nacional – maioritariamente, os nossos analistas apontaram Luís Montenegro (que teve o seu mérito na gestão tática que o conduziu ao poder, embora pouco mais se lhe possa apontar em termos de valores e ideias) mas eu tendo a preferir o original à cópia (citando João Miguel Tavares), ou seja, António Costa. E faço-o pelo que de revelador de “benefício do infrator” contem a sua presença na cena pública ao longo de 2024 – um homem que delapidou despudoradamente e sem arrependimento uma maioria absoluta, que esteve no governo durante sete anos e meio sem esboço de qualquer ímpeto reformista, que saiu empurrado por um processo escandaloso e no mínimo estranho quase prometendo que tão cedo não o apanhávamos por aí, acaba o ano como Presidente do Conselho Europeu numa evidente manifestação de quanto os compromissos e concessões sem princípios crescem, mas remuneram, na Europa e na política de hoje e, portanto, de um estado de depauperamento e falta de foco das lideranças europeias que faz temer pela sobrevivência do projeto comunitário.
Os restantes casos são algum do “eixo do mal” que enche os dias que correm e prenuncia um futuro imprevisível e pouco auspicioso. Por cá, a extrema-direita de Ventura a condicionar, com um certo brilhantismo que porém não atende à verdade e ao respeito das regras do jogo, o Parlamento e a atividade política. Lá por fora, as eleições americanas a estarem no centro dos interesses dos cidadãos do mundo e a vitória de Trump a acabar por ser um resultado que se foi tornando inevitável face à miséria tática de Biden e dos Democratas. Mas deste acontecimento o que parece tender a emergir como consequência mais preocupante é a ascensão de Elon Musk, um “presidente não eleito” que se vai afirmando pelo mundo (veja-se o seu apoio nada despiciendo à AfD alemã e a Farage no Reino Unido) como “um agente do caos” (cito o “El País”, mas também poderia ir atrás do “El Mundo” que o qualifica como “o Júlio César do Século XXI”). Acresce que a minha verdade vai também no sentido de não deixar que 2024 passe sem que se lhe atribua uma outra responsabilidade histórica, traduzida esta na forma selvagem e ilegal à luz do direito internacional como Israel se atirou ao Hamas em Gaza e ao Hezbollah no Líbano e prosseguiu pela Região uma estratégia expansionista (Cisjordânia e Síria, mas não só) que escapa a quaisquer mínimos de convivência global e coloca o seu primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como um dos maiores exterminadores do século.
Penso que fica bem à prova a minha discordância em relação a quantos olham para a realidade que os cerca à luz de olhos míopes e lógicas de curto prazo. O que é especialmente complexo e gravoso num momento de mudança vertiginosa e em que já nem as bases da ação política ou da convivência entre povos escapam. Fica o alerta!
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