O ano chega ao fim, com dezembro a começar estranhamente temperado do ponto de vista climático. Uma calma insolente face ao entorno que marca a nossa comunidade – uma comunidade que, tudo descontado, talvez merecesse melhor do que o que se lhe oferece –, com cada um dos nossos responsáveis a parecerem querer esforçar-se por se apresentarem mais desajustados do que os seus próximos. É assim que a falta de mínimos de normalidade e/ou decência não deixa verdadeiramente de fora ninguém com desempenho de funções políticas relevantes (ilustrações recentes na infografia abaixo): ele é o Presidente da República e a sua permanente e narcísica necessidade de se mostrar e dizer presente em relação a tudo quanto mexa e tenha luzes ligadas, ele é o primeiro-ministro pacoviamente agarrado ao brinquedo governativo a que inesperadamente o deixaram aceder, ele é o líder do principal partido da oposição a malhar indiscriminadamente na Direita e nos próprios camaradas em sucessivas e incompreensíveis gafes, ele é o “pantomineiro” Ventura a exibir a sua gigantesca e distinta lata alegadamente validada pelos 1,2 milhões de portugueses que votaram Chega, ele é o PCP a culpar o grande capital e os grandes monopólios de todos e quaisquer males do mundo e arredores, ele é o Bloco a evidenciar uma visível desorientação perante o afastamento a que está votado, ele é Rui Rocha a tudo querer liberalizar sem deixar de pretender transformar-se numa espécie de anjo da guarda de Montenegro, ele é a “espécie de Democracia” que Albuquerque dirige na Região Autónoma da Madeira, ele é a excecionalidade governativa que a tolerância para com a extrema-direita vai alimentando na Região Autónoma dos Açores, ele é o jogo parlamentar a alcançar o grau zero da sua expressão histórica, ele é a dimensão autárquica a fazer de conta que conta... Mas pior do que tudo é a evidência de que os outros responsáveis em presença na comunidade – a sociedade civil e as suas “elites” – nada fazem por se apresentarem melhor, mais focados e contributivos para o interesse geral, antes preferindo ostentar um aflitivo desinteresse pelo devir da comunidade a que pertencem e exibir, com manifestos laivos de novo-riquismo, sinais confrangedores de ignorância, egoísmo e jactância.
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