(Saúda-se o
regresso de Vicente Jorge Silva às crónicas jornalísticas, e só alguém com a sua espessura podia dizer preto
no branco que Mário Centeno está refém das exigências do Ronaldo AD da banca)
Vicente Jorge
Silva estará para sempre ligado à minha ideia de jornalismo, com memórias mais
ou menos longínquas, que vão desde o Comércio do Funchal às expectativas de futuro
que o aparecimento do Público suscitou na minha geração.
Estou-me nas
tintas para os motivos que determinaram o seu regresso às lides da crónica jornalística
na última página do Público, o que simplesmente me interessa é o regresso em si
e sobretudo a possibilidade de reencontrar a espessura da escrita de quem pode
aspirar a essa espessura ou peso das palavras, como quiserem.
E, de facto,
só alguém com esse peso, pode escrever preto no branco que o ministro das
Finanças Mário Centeno está progressivamente refém das exigências obscenas de
António Domingues, e esclareça-se não estou a falar das exigências de remuneração.
Como já ficou aqui claro em post
anterior, não partilho o falso moralismo dos indignados com a remuneração, de
Catarina Martins ao CDS. A ideia do governo, tal como o sustenta Clara Ferreira
Alves, parece ser a de gerir a CGD nos termos mais competitivos possíveis com a
restante banca portuguesa e esse terá sido o mandato comunicado ao gestor AD. Ou
seja, gerir um banco público com a máxima eficiência de um banco privado e isso
paga-se, tendo para mim que não é esta remuneração está sobrevalorizada, toda a
alta remuneração do sistema financeiro português o está, o que é outra coisa
completamente diferente. Mas apesar desse mandato, é de um gestor público que
estamos a falar, pois a gestão incidirá sobre recursos públicos e não privados.
Por isso, é de uma falta de tato inaudita deixar a controvérsia evoluir nesta
direção. As baterias parecem apontadas a Mário Centeno e com razão, embora António
Costa tenha de preparar-se pois vai sair salpicado de toda esta trapalhada.
O que parece
algo incompreensível é que Mário Centeno penalize a sua muito airosa saída da
apresentação do Orçamento de 2017 com esta submissão a um gestor que, pelo contexto
criado, tem todas as condições de vergar o próprio Ministro, pois nem quero
imaginar o que representaria para o dossier CGD o abandono de Domingues,
incomodado tal qual Madalena incompreendida pelas exigências de transparência.
Já tinha ficado
algo confundido com a atribuição de louros a Mário Centeno pela negociação realizada
com a Comissão Europeia e a supervisão do BCE acerca das condições de recapitalização
da CGD. Pela minha intuição, isso deverá ter sido repartido com outras influências
exercidas a partir do Banco de Portugal. Caso o tenha sido, teria ficado bem a Centeno
exprimir esse agradecimento. Estou agora também confundido com a divisão das
responsabilidades entre o que estará a passar-se em matéria de exigências do
gestor AD entre o ministro Centeno e António Costa. É espantosa a brecha criada
neste assunto pelo governo quando em relação ao comportamento ausente e
irresponsável do governo Passos Coelho estavam todas as condições criadas para mostrar
que era possível fazer diferente e sobretudo mais atempadamente.
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