(A solução
política inimaginável para muitos lá se vai aguentando, apesar das suas
fragilidades e contradições, e a sua principal barreira continua a ser a pressão
de uma PPE izada Comissão Europeia, com alguns Comissários a emergirem da sua irrelevância para deixar no
ar as ameaças do costume)
Comissários alcoviteiros
é a expressão que me ocorre para descrever personagens menores que vão
destilando mensagens de alerta mais ou menos intimidatórias para o rumo das
coisas em Portugal, provenientes da Comissão Europeia surpreendidas pelo rumo
dos acontecimentos políticos em Portugal. O acordo parlamentar à esquerda
esteve sempre longe das cogitações das autoridades europeias, até porque o seu
eventual embora contraditório sucesso não bate certo com as “certezas”
apregoadas por tão cinzentas personagens sob o manto protetor do PPE e a
cumplicidade inicial de socialistas e sociais-democratas europeus. Também não
imaginariam que uma eleição presidencial em Portugal trouxesse para a ribalta
alguém que preza até aos limites do possível o valor da estabilidade política,
ainda que baseada em soluções aparentemente heterodoxas.
Os Comissários
alcoviteiros são, regra geral, gente que num mundo de igualdade de oportunidades
levada efetivamente à letra não passariam da cepa torta. Personagens menores a
quem não se conhece um pensamento de profundidade média. Personagens que, na
sua ânsia de servirem de mensageiros quanto às orientações profiláticas de
governação a seguir para não incomodar princípios pretensamente universais,
entram frequentemente em contradição. Senão vejamos. A Comissária do Emprego,
Assuntos Sociais e Inclusão, Marianne Thyssen, veio alertar as autoridades
portuguesas não só para a “catástrofe” que pode vir aí com o aumento do salário
mínimo, mas sobretudo para a necessidade da política económica nacional não
acordar os mercados financeiros. A linguagem é preciosa. Não acordar os
diabinhos, pois eles podem ser a fonte de todo o mal e, quando acordados,
colocarem os países e autoridades europeias entregues à sua sorte. Entretanto, Günther
Oettinger, membro do internamente acossado partido de Merkel, comissário
europeu responsável pelas pastas da Economia e Sociedade Digitais e agora a
braços com o Orçamento por força da licença sem vencimento da pouco Kristalina
(Georgieva) que rumou a Nova Iorque para atrapalhar a seleção do
secretário-geral da ONU, vá lá saber-se a coberto de que amo e senhor, não
hesitou ontem na Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento português em
acordar os mercados com a sua preocupação de um segundo resgate financeiro,
introduzindo por essa via mais uma alfinetada ameaçadora na solução política à
esquerda em Portugal. Não foi seguramente por acaso que o seu foco no Parlamento
foram os deputados à esquerda. Não deixa de ser simbólico, perturbar o sono dos
mercados no próprio Parlamento, quando a colega do Emprego tão preocupada está
em não acordar os diabinhos.
O cinzentismo dos
alcoviteiros não vem fundamentado por quaisquer evidências ou trabalho teórico
relevante realizado pela caterva de gente que o pode fazer na burocracia
técnica europeia. No que diz respeito aos avisos da senhora Thyssen não está
hoje demonstrado em lado nenhum que a consolidação orçamental à força imposta
aos países endividados, acompanhada dos custos recessivos que ela determina,
abra o caminho prometido em matéria de criação de emprego que a Comissária
tanto apregoa. A destruição de emprego provocada pela ausência de uma solução
macroeconómica coordenada para toda a Europa é tão elevada que esses países terão
de, durante largos anos, jogar para recuperar dos pontos negativos. E o tempo
em política é determinante, argumento como é óbvio sem valor para os que com a
passagem pela Comissão Europeia estão a dourar o seu futuro, ao abrigo de todos
os males e incertezas e os outros que se amanhem. É por isso que a senhora
Thyssen e outros alcoviteiros mensageiros não têm nada para oferecer de combate
às forças populistas que avançam desabridas, oleadas pela destruição que a
referida consolidação fiscal descoordenada e à bruta deixam pelo caminho.
Destruir hoje para abrir o caminho futuro da redenção não é neste contexto
fundamento de programa político para ninguém. E se esse movimento continuar a
intensificar-se as eventuais e raras forças bem-intencionadas que permaneçam
entre as fileiras dos populares europeus serão elas próprias arrastadas pela
corrente.
No contexto que vivemos,
o tão invocado TINA não é uma alternativa consequente. Não o é porque não constitui
uma resposta política consequente aos que antecipam na situação o caldo ideal
para o regresso ao nacionalismo económico, o conservadorismo dos valores, o
fechamento da imigração e o aperto das fronteiras. Compreendo que o The
Economist se insurja contra os malefícios de uma globalização bloqueada (ver
links aqui e aqui, retirados da edição impressa da passada sexta-feira), mas
não compreendo que não denuncie com suficiente severidade os malefícios para
essa globalização do que se vai fazendo e assumindo pela União Europeia.
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