sexta-feira, 21 de outubro de 2016

SEMINÁRIO NA FEP


Ao fim da tarde de ontem, um momento de algum significado pessoal com o regresso à minha Faculdade de Economia do Porto – em bastante mau estado, diga-se de passagem em  mais um exemplo comprovativo do modo como coletivamente (não) soubemos gerir as nossas coisas – para um seminário no quadro dos seus Mestrados a convite dos professores por eles atualmente responsáveis (Álvaro Aguiar, Mário Rui Silva – ambos alunos de outras encarnações! – e Ana Paula Delgado) e o patrocínio do sempre amável Diretor José Manuel Varejão. E foi na velha sala 111, perante uma plateia de setenta jovens e alguns colegas que também quiseram assistir (Margarida Ruivo, Hélder Valente e Miguel Fonseca), que lá esgrimi os meus argumentos em torno do tema combinado (“O Portugal Europeu de 2016: Crescimento e Desenvolvimento”).

Falei da “inconsistência institucional” do Portugal democrático, sem prejuízo do fosso que em muito o separa do Portugal pré-1974, e da lengalenga do “crescimento é preciso” que em permanência tão inconsequentemente nos invade. Aproveitei então para sublinhar algumas das grandes restrições à efetiva verificação do mesmo, com destaque para as perversões da União Europeia que temos (arquitetura do Euro incluída), a tempestade perfeita constituída pela nossa demografia, a questão da dívida externa e a falta de capital nas empresas. A terminar, dediquei ainda algum tempo às assimetrias regionais, menos na perspetiva de as sobrevalorizar por si sós do que na de salientar quanto elas servem de pretexto para alimentar a irresponsabilidade de uma desesperante ausência de estratégia (vivemos com o olhar fixado no umbigo, no vizinho do lado e no banco de trás, eis a expressão que me ocorreu). Agravada esta por fatores tão rígidos e nefastos quanto a inviolabilidade das corporações, a desviante viciação dos partidos, a(s) captura(s) do Estado, a deserção das “elites”, o fala-baratismo de políticos e comentadores ou o conformismo dos cidadãos.

No final, e para completar os 90 minutos de jogo previsto, ainda sobrou algum tempo para perguntas dos alunos, aliás quase todas invariavelmente marcadas por preocupações decorrentes do pessimismo que realisticamente (acho eu!) terei exibido. Sem prejuízo de uma referência àquele desabafo em que o nosso El Roto explica como só ele sabe que, se escurece, tal sinaliza que amanhecerá...

(Rodrigo Matos, http://expresso.sapo.pt)

Sem comentários:

Enviar um comentário