(Por estes dias,
o PSOE funciona em cima de brasas, dilacerado pela estranha opção de uma queda
mais que possível em terceiras eleições ou de viabilizar a investidura de Rajoy,
embora sem assegurar a governabilidade
de Espanha)
Pedro Sánchez anda perdido
na busca de um lugar no Congresso de Deputados que assegure por um lado a não
vulgarização de um ex-líder e garanta, por outro, alguma preservação de imagem
após a sua atormentada demissão. Estou com curiosidade em saber a que fila do hemiciclo
vai corresponder esse equilíbrio.
Entre a militância de base
não se consegue aferir com rigor a que percentagem corresponde a divisão entre
os que se recusam a aceitar a governação de Rajoy e os que vêm na viabilização
da investidura um mal menor, algo que permita o partido tomar algum ar para
traçar o seu rumo futuro. Entre os deputados eleitos na eleição anterior,
aparentemente só os socialistas catalães ameaçam romper a disciplina de voto e
votar contra a investidura de Rajoy.
Entretanto, Javier Fernández,
presidente do Governo Regional das Astúrias e presidente do Comité de Gestão Federal
do partido que o vai aguentando durante esta longa tormenta, vai trazendo ao
debate interno e à opinião pública espanhola algum pensamento que os decibéis das
duas últimas semanas tinham inapelavelmente apagado. Não deixa de ser curioso e
simbólico da situação política espanhola que seja um presidente de comunidade
autónoma a impor alguma calma no seio do partido e das suas abaladas instituições.
Aliás, Javier Fernández é das vozes mais ouvidas no PSOE mais profundo.
O presidente do Comité Federal
que reunirá para início de debate conclusivo no domingo de 23 de outubro reatou
o relacionamento institucional com o PP, mais propriamente com Mariano Rajoy, e
lá vai sublinhando que a eventual abstenção na investidura não significa garantia
à governalidade diária em jeito de cheque em branco que Rajoy endossaria a quem
pretendesse. Depreende-se destas palavras que o PSOE que alinha com a
viabilização da investidura de Rajoy se prepara, para no dia-a-dia da governação
e do Congresso de Deputados, vender cara a governabilidade. Surpreendentemente,
ou talvez não, Rajoy tem vindo a alinhar-se com esta posição do PSOE,
reafirmando que está disposto quotidianamente a conquistar essa governabilidade
e já o enunciou publicamente.
Noutro plano, com destaque
para a sua entrevista ao El País deste passado domingo, Javier Fernández tem
rejeitado vigorosamente a entrada do PSOE nos meandros do populismo de esquerda
que o PODEMOS protagoniza, demarcando terreno e ideário. Creio que lá no fundo
do íntimo de Javier Fernández está a ideia de que o PODEMOS possa desagregar-se
internamente. A formação de Iglésias já viveu melhores dias, parecendo emergir
no seu seio duas orientações, a mais radical do próprio Iglésias e uma outra
mais apontada a uma experiência de governação ou de apoio contratualizado à
mesma. O debate interno no PODEMOS não chegou a esse apuro de delimitação de
ideias (na calle ou nos meandros do poder?) e não é de afastar a hipótese de
tal se produzir apenas depois de uma queda vertiginosa do PSOE, com perdas de
eleitorado para o PODEMOS e para o CIUDADANOS.
De qualquer modo, pelas
bandas do PSOE, algum pensamento parece emergir, depois do partido se ter
atolado em taticismo. Já não era sem tempo. Mas a recidiva taticista pode
surgir a qualquer momento, com ou sem terceiras eleições.
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