sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A MOÇÃO DO DESESPERO



(Se há partido que tem o condão de me irritar e causar alergia das fortes é o CDS-PP. A moção de censura ao Governo é mais o produto de desespero puro e simples do que propriamente o resultado de uma grande jogada política, pois Cristas enquanto pressuposta player de grande alcance não passa dos primeiros capítulos de manuais baratos e indiscriminados.)

Desde os tempos em que o patine antes do tempo de Paulo Portas se pavoneava pelos nossos diversos cantos políticos até aos tempos de caçador furtivo que atira a tudo quanto mexe, o CDS-PP tem-se confinado no reduzido universo das suas limitações. O partido rejuvenesceu de aparência, mas os seus jovenzinhos e jovenzinhas têm tanto conservadorismo nas suas cabeças que a força e energia da sua juventude se perdem algures no bafio das suas ideias. Por isso, hoje, o pensamento de uma figura como Adriano Moreira é um outlier que não tem nada que ver com o ideário pelo qual o CDS-PP se pretende afirmar. Ao pé destes aprendizes a democracia-cristã de outros tempos fica envergonhada e acomoda-se para uma longa travessia no deserto.

Sob o comando de Cristas, o CDS-PP tem vivido de falsas esperanças de crescimento, eternamente adiadas. Passaria pela cabeça de Cristas um modelo tipo CIUDADANOS em Espanha, mas nem tem unhas e personalidades como Arrimadas para isso, nem o país sociológico está muito adestrado para modernismos de direita.

Com o PSD em profunda evolução para uma linha política mais estável, que as próximas eleições dirão se é ou não viável sob o comando de Rio, o aparecimento da Aliança de Santana Lopes, mesmo sendo difícil captar para já o seu valor eleitoral, veio de certo modo perturbar as intenções de Cristas de poder capitalizar as desavenças internas no PSD. A direita começa a fragmentar-se e é por isso legítimo que as pessoas questionem o que é que o CDS tem efetivamente para oferecer, já que alguns dos seus principais figurões optaram por se manter nos negócios e dar simplesmente uma perninha de vez em quando, para não parecer mal, como é o caso paradigmático de António Lobo Xavier.

Nos últimos tempos da geringonça das esquerdas como Cristas gosta de lhe chamar, o CDS especializou-se em alvos aleatórios. Sem certezas quanto a uma linha de rumo, atira a tudo que mexe, procurando encontrar nessa sucessão aleatória de alvos e temas a linha de rumo que lhe escapa. Ao contrário do que muitos pensarão, Cristas e o CDS-PP compreenderam pior e mais tarde os compromissos da geringonça. Por isso, à falta de melhor luta para se manter à tona e tudo lhe serve. Simplesmente, à medida que se sucedem os alvos aleatórios fica cada vez mais difícil a um eleitor minimamente interessado perceber ao que o CDS-PP vem e sobretudo perceber o que tem o partido a oferecer.

Eu sei que talvez passe pela cabeça de Cristas um fogacho com origem em Espanha, pensando ela que uma coisa do tipo “PP + CIUDADANOS +VOX” possa emergir em Portugal, com contornos diferentes é óbvio, mas permitindo devolver a António Costa o que ele conseguiu face à maioria da TROIKA. Ou seja, fazer com que Costa pudesse ganhar as eleições mas perder uma maioria para governar. Ora, nem há corpo à direita em Portugal para protagonizar esse acordo parlamentar. E, mais importante do que isso, em Espanha não há nem um PCP nem um Bloco de Esquerda. O PCP não tem elemento de comparação. Quanto ao Bloco de Esquerda até parece um partido estruturado quando o cotejamos com o PODEMOS de Pablo Iglésias, mesmo tendo em conta as recentes saídas de radicais políticos para os quais os temas da governação são uma grande chatice.

Por isso, a moção de censura é uma moção de desespero de um partido necessitado de um Viagra político para superar o seu confinamento. Talvez uma dança da chuva, protagonizada por Cristas, de saiote apelativo e peninhas com glamour, possa minimizar a situação.

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