(Não confio muito nesta sondagem realizada para a VOZ de
GALICIA, sobretudo pela técnica das duas subamostras, uma para a Espanha como
um todo e outra para a Galiza. De qualquer modo, talvez seja um alerta da ingovernabilidade que se desenha
no horizonte, com fraturas de natureza diversa e um vendaval de direita chamado
VOX.)
Mesmo tendo em conta as
reservas que a sondagem que a empresa SONDAXE realizou para o jornal A VOZ DE
GALICIA me inspira (link aqui), não podemos ficar indiferentes aos alertas ou possíveis
resultados do futuro 28 de abril.
A minha leitura dos
dados publicados aponta para uma guerra sem quartel à direita, sobretudo pelo
significado dos surpreendentes 51 lugares no Congresso de Deputados que a
sondagem estima poderem ser alcançados pela direita espanhola mais à direita
(que alguns continuam não sei se ingenuamente ou com razão a classificar como não
de extrema-direita). E se a queda do PP não causa espanto de maior, dadas as dificuldades
da velha formação política espanhola estabilizar um pensamento e propostas, permanentemente
acossada pela emergência do VOX a partir das suas entranhas, já o facto do
CIUDADANOS aparecer relegado para quarta força política impressiona e causa
alguma perplexidade. De facto, desde o passo em falso que Rivera deu quando não
soube gerir politicamente a moção de censura vitoriosa de Sánchez que afastou
Rajoy do poder até à mais recente estranha posição de não enjeitar coligações
ou acordos parlamentares com o VOX e rejeitá-las simultaneamente com o PSOE, o
CIUDADANOS vive um longo momento de perturbação e desorientação. O que não deixa
de causar perplexidade a um pensamento de boa-fé, que acredita que há espaço e
que espaço para uma direita moderna, que rejeite os meandros da corrupção e da
captura do Estado, que seja firme em relação à unidade de Espanha mas que não
conduza a questão regional a um beco sem saída. Pelos vistos enganei-me. E a
decisão já praticamente em cima de eleições de mobilizar Inês Arrimadas, a fogosa
e destemida representante do CIUDADANOS na Catalunha, figura mais votada das últimas
eleições regionais, para uma candidatura ao Parlamento espanhol em Madrid soa já
a algum desespero.
Mas ao contrário do que
sucedeu na Andaluzia, os resultados desta sondagem não garantem uma maioria de
direita no Congresso de Deputados, o que sugere que os ventos andaluzes não
trazem aos espanhóis esperanças por aí além.
À esquerda, sem recurso
aos independentistas, a soma de um caldo do PSOE com PODEMOS e outras forças não
independentistas fica longe dos 176 lugares necessários. Projetando estes
resultados, conclui-se que baralhar e tornar a dar não clarificou rigorosamente
nada. A esquerda liderada pelo PSOE continuaria refém do voto independentista num
caldo ainda mais arrojado, perfazendo nessa situação 177 lugares mesmo sem contar
com a representação que o grupo de Puigdemont do PD de Cat possa vir a ter no
Parlamento nacional. O que não deixa de ser irónico, positivo embora, pois retiraria
a um não confiável Puigdemont margem de manobra política. Claro que uma
sondagem desta natureza pode atiçar demónios e superar interrogações, criando
condições para que a direita com VOX adquira uma maioria parlamentar. Continuo
a pensar que, para mal dos pecados dos nossos vizinhos, essa ainda é a situação
mais provável, embora me pareça que não tenha grande potencial para medrar e
proporcionar uma legislatura minimamente estável. O problema regional espanhol
continua lá, intacto e aguardando alguma sabedoria e sensibilidade políticas
para o resolver ou pelo menos conter no quadro constitucional.
Com estes resultados, Sánchez
arrisca-se a transformar-se num “sempre em pé” da política espanhola, embora por
vezes o levem às cordas, regra geral com o próprio a colocar-se de feição para
apanhar pancada. Mas que lio laboratorial está a germinar aqui ao lado.
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