domingo, 24 de fevereiro de 2019

MAS QUE GRANDE LIO!




(Não confio muito nesta sondagem realizada para a VOZ de GALICIA, sobretudo pela técnica das duas subamostras, uma para a Espanha como um todo e outra para a Galiza. De qualquer modo, talvez seja um alerta da ingovernabilidade que se desenha no horizonte, com fraturas de natureza diversa e um vendaval de direita chamado VOX.)

Mesmo tendo em conta as reservas que a sondagem que a empresa SONDAXE realizou para o jornal A VOZ DE GALICIA me inspira (link aqui), não podemos ficar indiferentes aos alertas ou possíveis resultados do futuro 28 de abril.

A minha leitura dos dados publicados aponta para uma guerra sem quartel à direita, sobretudo pelo significado dos surpreendentes 51 lugares no Congresso de Deputados que a sondagem estima poderem ser alcançados pela direita espanhola mais à direita (que alguns continuam não sei se ingenuamente ou com razão a classificar como não de extrema-direita). E se a queda do PP não causa espanto de maior, dadas as dificuldades da velha formação política espanhola estabilizar um pensamento e propostas, permanentemente acossada pela emergência do VOX a partir das suas entranhas, já o facto do CIUDADANOS aparecer relegado para quarta força política impressiona e causa alguma perplexidade. De facto, desde o passo em falso que Rivera deu quando não soube gerir politicamente a moção de censura vitoriosa de Sánchez que afastou Rajoy do poder até à mais recente estranha posição de não enjeitar coligações ou acordos parlamentares com o VOX e rejeitá-las simultaneamente com o PSOE, o CIUDADANOS vive um longo momento de perturbação e desorientação. O que não deixa de causar perplexidade a um pensamento de boa-fé, que acredita que há espaço e que espaço para uma direita moderna, que rejeite os meandros da corrupção e da captura do Estado, que seja firme em relação à unidade de Espanha mas que não conduza a questão regional a um beco sem saída. Pelos vistos enganei-me. E a decisão já praticamente em cima de eleições de mobilizar Inês Arrimadas, a fogosa e destemida representante do CIUDADANOS na Catalunha, figura mais votada das últimas eleições regionais, para uma candidatura ao Parlamento espanhol em Madrid soa já a algum desespero.

Mas ao contrário do que sucedeu na Andaluzia, os resultados desta sondagem não garantem uma maioria de direita no Congresso de Deputados, o que sugere que os ventos andaluzes não trazem aos espanhóis esperanças por aí além.

À esquerda, sem recurso aos independentistas, a soma de um caldo do PSOE com PODEMOS e outras forças não independentistas fica longe dos 176 lugares necessários. Projetando estes resultados, conclui-se que baralhar e tornar a dar não clarificou rigorosamente nada. A esquerda liderada pelo PSOE continuaria refém do voto independentista num caldo ainda mais arrojado, perfazendo nessa situação 177 lugares mesmo sem contar com a representação que o grupo de Puigdemont do PD de Cat possa vir a ter no Parlamento nacional. O que não deixa de ser irónico, positivo embora, pois retiraria a um não confiável Puigdemont margem de manobra política. Claro que uma sondagem desta natureza pode atiçar demónios e superar interrogações, criando condições para que a direita com VOX adquira uma maioria parlamentar. Continuo a pensar que, para mal dos pecados dos nossos vizinhos, essa ainda é a situação mais provável, embora me pareça que não tenha grande potencial para medrar e proporcionar uma legislatura minimamente estável. O problema regional espanhol continua lá, intacto e aguardando alguma sabedoria e sensibilidade políticas para o resolver ou pelo menos conter no quadro constitucional.

Com estes resultados, Sánchez arrisca-se a transformar-se num “sempre em pé” da política espanhola, embora por vezes o levem às cordas, regra geral com o próprio a colocar-se de feição para apanhar pancada. Mas que lio laboratorial está a germinar aqui ao lado.

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