quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

LIBERAIS, LIBERAIS, NEGÓCIOS À PARTE



(Pela manhã bem cedo, mas que vida esta, com o Alfa cada vez mais instável mas com o wifi a funcionar desta vez menos mal, o Financial Times Brussels Briefing traz-me uma notícia de algo que aconteceu após o encerramento dos mercados bolsistas. O governo holandês, não satisfeito com os rumos que a AIR FRANCE- KLM está a tomar, anuncia que comprará em mercado as ações que forem necessárias para ganhar paridade e igualdade de influência com os franceses na gestão da companhia.)

Eis um sinal evidente dos tempos que vivemos. Quem diria que um governo como o holandês chefiado por Mark Rutte se apressava a tomar posição e influência sobre uma companhia que parece viver mal o casamento de conveniência ou fusão, como entenderem, que a AIR FRANCE e a KLM protagonizaram já há algum tempo? Não vou discutir os termos concretos em a gestão da companhia tem evoluído, mas não custa admitir que os franceses estejam dispostos a seguir uma máxima do tipo Macron c’est moi e tivessem nos últimos tempos puxado a brasa à sua sardinha. Convém não ignorar que há também aqui uma questão de aeroportos e os holandeses não estejam dispostos a deixar o aeroporto de Schiphol Amesterdão desprotegido. E os instintos protecionistas dos franceses não se apagam por magia.

Por esta hora, haverá por aí muito liberal mais ou menos convicto com azia matinal, incomodado com as partidas que a maldita realidade prega à pureza das ideias.

Mas esta é também uma imagem da verdadeira Europa, com os interesses nacionais a mostrarem a sua força, à direita e à esquerda. Os distraídos que se cuidem, pois qualquer percalço pode ser a morte do artista.

Projetando a moral da história para os limites apertados da nossa realidade, até estarei disposto a rever a minha conhecida posição de me não entusiasmar por ai além com a velha ideia de uma companhia de bandeira e com o que isso custa. O problema é que, com todas as peripécias e evoluções que a TAP atravessou nos últimos tempos, a situação já não é nem carne nem peixe. E os aeroportos foram nacionalizados para complicar a situação, aos franceses precisamente. O que significa que muito provavelmente estaremos sem poder de tiro quando ele seria mais necessário. A onda de privatizações que a TROIKA e o PAF nos impingiram veio no pior momento possível, ou seja em pleno recrudescimento dos interesses nacionais, que por cá correm o risco de não serem mais do que interessesinhos.

Parece que estamos condenados a viver em contraciclo com a história. Mas o tempo está ameno, os TUK TUK circulam cada vez mais, as esplanadas preenchem-se de gente e o endividamento para consumo ou para necessidades continua apesar dos alertas do cada vez mais isolado governador …

Sem comentários:

Enviar um comentário