Foi com um quase incontido orgulho que me deparei com o editorial do “Público” do passado dia 6 (“Esse horror e medo do país periférico”), assinado pelo seu diretor. Quero, por isso, começar por daqui saudar o conteúdo do dito e a inerente e corajosa ousadia de Manuel Carvalho (MC), ele que é hoje o primeiro responsável do jornal diário português de maior qualidade mas também sabedor de que o mesmo é maioritariamente vendido nas várias esquinas de Lisboa. Não mais de três dias depois, lá tinha de vir Miguel Sousa Tavares (MST) fazer das suas, naquela sua verve feita de emoções, qualidade de escrita e sentido cívico mas também cheia de clichés e de uma frequente ignorância da massa de que as coisas são feitas, deixando nas páginas do “Expresso” o seu retorcido recadinho aos abomináveis “regionalistas”.
De um lado, um transmontano com quilómetros de rodagem e conhecimento efetivo do “país real”; do outro, um portuense convertido às delícias sulistas e elitistas e completamente alheado dos malefícios nacionais do centralismo — sem prejuízo da sua micro-cedência ao portismo futebolístico, qual maravilhosa habilidade circense ou assistência esmolar para afagar más consciências — e incorrigível arauto do “populismo dos tachos”. Claro que não passa de todo pela cabeça de MST relevar a compreensão dos estrangulamentos que tolhem o País e debatê-los seriamente, sobretudo na medida em que o que verdadeiramente o mobiliza são as suas vitórias pessoais ao comando do seu “grupo de cidadãos”, bem assim como a memória das derrotas referendárias que este foi e será capaz de infligir às extraordinárias perversões dos regionalistas (com João Cravinho à cabeça, pasme-se!) — porque, como bem sublinha MC, “o país periférico é demasiado iletrado e bronco para decidir sobre os seus destinos” e porque MST é dos que se recusam a admitir que “estados centralizados negam a eficiência e ameaçam a liberdade individual”.
E assim vamos, de nenúfar em nenúfar, até onde Deus quiser levar-nos...
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