(Desta vez em Évora, com degustação de um almoço de domingo
no ambiente familiar do Dom Joaquim, com visita guiada à exposição no Centro de
Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida do chamado GRUPO 8. Oportunidade para mergulhar na recomposição do ambiente
de uma iniciativa de forte fulgor dos anos 70, decentralizada isso inequivocamente,
mas com ventos vindos da capital.)
Já tinha lido alguma coisa sobre o Grupo dos 8, sobretudo do ponto de vista
da obra de um dos seus representantes, o António Palolo. Mas por aqueles acasos
de visitantes acidentais, que tinham reservado mesa para o incontornável ambiente
familiar dos domingos no Dom Joaquim em Évora, a entrada no belo edifício do
Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida (link aqui) reservava-nos uma visita
guiada à exposição do Grupo dos 8.
O Grupo dos 8, onde pontificavam os oito nomes inscritos na capa do folheto
que acompanha a exposição, pode ser considerado um movimento de um conjunto de
artistas, alguns dos quais com ligação ao Alentejo profundo e que pretendiam a
partir desse contexto conduzir um processo de experimentação sem dogmas. Alguns
dos elementos do grupo não tinham qualquer formação académica e exploravam nessa
condição o uso de novos materiais e de formas de expressão artística (como as
performances efémeras), características que os transformam num elemento de
alguma raridade no meio artístico nacional da época, os primeiros após a
revolução democrática de abril de 1974.
Mas o movimento do Grupo dos 8 não pode ser compreendido sem termos em
conta o processo de grande transformação que o meio artístico de Lisboa vivia
então, designadamente com o desaparecimento das principais galerias da capital.
Esta referência é relevante, pois para além de alguns elementos do grupo (António
Palolo, José Carvalho e José Conduto) terem vivido em conjunto esse período de
grande transformação na vida artística da capital, a sua vinda para fixação no
Alentejo é indissociável do contacto que sempre mantiveram com o ambiente de
Lisboa.
O curioso da exposição é que ela é realizada com um curador que fez parte
do movimento, Joaquim Tavares, e que no âmbito do seu doutoramento que realiza por
estes tempos na Universidade de Évora, consegue recompor algumas das peças concebidas
não só por si mas também por outros colegas do movimento. A matéria é muito sugestiva,
pois como sabemos a questão do registo e preservação das obras efémeras,
designadamente as realizadas no quadro de performances irrepetíveis, tem uma profundidade
de controvérsia assinalável. A visita à exposição guiada pelo novo Diretor do
CAC da Fundação Eugénio de Almeida, José Alberto Ferreira da Universidade de Évora,
é muito sugestiva deste ponto de vista da recomposição das peças e do seu
contexto, sempre auxiliado pela presença na visita do seu curador Joaquim Tavares.
Mas a mim, como é óbvio, o que mais me interessou é a do significado de um movimento
artístico, relativamente efémero é certo, nascido com objetivos de afirmar a
criação e a experimentação artísticas a partir do Alentejo, o ter sido num
contexto de forte articulação com o que se passava no meio artístico de Lisboa
e das suas transformações. É uma matéria que me interessa decisivamente, pois
continuo a pensar que sobretudo Évora, mas também Montemor-o-Novo, são
indissociáveis da sua proximidade e articulação com Lisboa, o que não significa
venda da genuinidade. Conforme é referido na brochura que acompanha a exposição
(ver link aqui), quando António Palolo e José Carvalho regressam ao Alentejo instalam-se
num monte perto de Évora (o Monte da Oliveirinha) sem quaisquer condições de
habitabilidade, embora posteriormente fosse a casa de Joaquim Carapinha o
centro de reunião de todas as ideias entre o grupo. A evidência da relação com
as transformações artísticas do Portugal pós Revolução esta na participação de
alguns dos elementos do Grupo dos 8 na grande exposição Alternativa Zero – Tendências
Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea, realizada com o apoio da então
Secretaria de Estado da Cultura na Galeria Nacional de Arte Moderna de Belém,
organizada por Ernesto de Sousa que participa na brochura de uma das três
grandes exposições realizadas pelo Grupo. Participaram nessa grande exposição
de Lisboa António Palolo, José Carvalho e José Conduto.
E assim se preparou a sensibilidade para a degustação de domingo no Dom
Joaquim.
Ontem em Portalegre, hoje em Évora, a perceção de que pode existir vida cultural
fora de Lisboa. Um visitante acidental com sorte nem sempre acontece. Desta vez
aconteceu.
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